Quando fui pai a primeira vez, a minha maior angústia era ver a minha filha a chorar. Não pelas lágrimas em si, isso não me aflige. Sou casado, tenho uma irmã, já tinha tido namoradas, estava habituadíssimo a ouvir mulheres a chorar. A diferença é que, nessas vezes, sabia a razão pela qual elas estavam a chorar. Porque elas faziam questão de me dizer. Mesmo nos casos em que eu não estava presente durante o choro, a situação era-me explicada mais tarde. Exaustivamente. Portanto, ao conhecer as razões, sabia o que tinha de fazer para me redimir.
Com a minha filha bebé, isso não acontecia. Ela não me conseguia dizer porque é que estava a chorar e, por isso, eu não sabia o que fazer para a acalmar. Seria fome? Sono? Cólica? Medo? Dentes? Era muito inquietante. Felizmente, entrou agora na adolescência e já me elucida com facilidade. Até graficamente. É incrível o que esta geração consegue fazer com recurso a emojis e stories do Instagram.
É por isso que me solidarizo com os jovens que vão agora votar a primeira vez. Eles vão ter de escolher entre candidatos e não conseguem perceber as razões que os levam a chorar em directo nas televisões. Será que Montenegro tem fome? Pedro Nuno tem sono? Paulo Raimundo tem cólica? André Ventura tem medo? Inês Corte-Real tem dentes? Como interpretar a baba e ranho eleitoral? Não lhes invejo a incerteza.
De repente, sem que nada o fizesse prever, passou a ser obrigatório que os candidatos a Primeiro-Ministro se apresentem na televisão a chorar.
À apresentação do programa, debates, tempos de antena, arruadas e comícios, junta-se agora o pranto televisivo como mais uma etapa no percurso pré-eleitoral. Há aqui uma mudança de paradigma. Passámos do extremo de esconder as emoções para o oposto, de estar sempre a mostrá-las. E aos soluços.
Aparentemente, os políticos confundem transparência com ranhoca. Acham que manter os olhos secos quando falam de temas tristes pode ser sinal de falta de humanidade. Mas não é. Não mostrar as emoções não significa que elas não existam. Não estão é à mostra.
Nós sabemos que os políticos têm tristezas, alegrias, medos, euforias, raivas. Não precisamos que nos mostrem tudo. A expressão dos sentimentos é sobrevalorizada. Não é preciso ver lágrimas para saber que há tristeza. Alguém devia explicar-lhes a diferença. É como estarem a ser entrevistados por uma jornalista atraente e sentirem-se entusiasmados. O entusiasmo existe quer seja mantido dentro das cuecas, quer seja posto para fora das calças. Por alguma razão a sociedade valoriza o decoro e a modéstia e tende a castigar os priapos de gabardina.
Até onde é que esta nova moda poderá ir? Os políticos são muito competitivos. Se já todos choram, como é que alguém se consegue destacar? A única hipótese que vejo é que passem a contratar um coro de carpideiras para os acompanhar à televisão. O Goucha faz uma pergunta sobre memórias de infância e pumba!, as velhinhas, todas vestidas de preto, começam a carpir. “Ai, ai, ai! Era um rapazinho tão querido! Ai, ai, ai! Votem nele!”