Actualmente, na Antártida, há cerca de 30 países (num total de 195) com bases polares permanentes, ou seja, com presença humana durante todo o ano, mesmo durante o difícil inverno antártido quando as temperaturas são – em média – de 49º (a temperatura mais baixa jamais registada foi na base russa de Vostok e chegou aos -89.6º).
A presença destes países no continente gelado é regulado pelo Tratado da Antártida e por um conjunto de acordos relacionados, conhecidos colectivamente como Sistema do Tratado da Antártida (STA) juntos, regulam as relações internacionais com relação ao continente gelado, sendo este o único continente da Terra sem uma população humana nativa. Este Tratado foi o primeiro acordo de controlo de armas estabelecido durante a Guerra Fria, designando o continente antártico como uma reserva científica, estabelecendo a liberdade de pesquisa científica e proibindo toda a actividade militar.
Dos 30 países com bases permanentes na Antártida destacam-se: Argentina, Austrália, Brasil, Chile, China, Estados Unidos, França, Itália, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Reino Unido, Rússia, Coreia do Sul, Índia, Alemanha. Outros países também têm bases sazonais.
Acredito que Portugal deveria avaliar a instalação de uma base permanente no Pólo Sul por várias razões estratégicas, científicas e ambientais.
O Pólo Sul oferece condições únicas para estudos em várias áreas, como climatologia, astronomia, biologia e glaciologia, instalar uma base permitiria a Portugal contribuir directamente para pesquisas sobre mudanças climáticas e o impacto ambiental, além de promover parcerias internacionais e desenvolver a sua própria competência em ciências polares.
A presença de uma base no Pólo Sul elevaria o perfil de Portugal na comunidade científica e política internacional, iria reforçar a posição do país nas organizações globais dedicadas ao estudo e à protecção do meio ambiente. As condições extremas do Pólo Sul exigem tecnologias avançadas para construção, energia, comunicação e transporte, sendo que o seu domínio e construção representaria uma oportunidade para Portugal desenvolver e testar novas tecnologias que poderiam ser aplicadas tanto em ambientes extremos como noutros sectores no país, especialmente nas áreas das energias renováveis e sustentabilidade.
Uma base polar portuguesa permitiria também formar cientistas, engenheiros e técnicos portugueses especializados em operações de campo em ambientes rigorosos, desenvolver programas educativos e de formação em ciências polares que poderiam ser criados em parceria com universidades e institutos portugueses, aumentando a capacitação científica e o interesse por áreas STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) entre os jovens.
Portugal poderia passar a desempenhar um papel activo na preservação dos ecossistemas únicos do Pólo Sul, ajudando a estudar e mitigar o impacto das mudanças climáticas, a presença na Antártida permitiria também ao país monitorizar os efeitos do aquecimento global de forma directa e contribuir para soluções para este problema que assola toda a humanidade.
Embora o Tratado da Antártida proíba expressamente a exploração mineral na região até 2048, ano em que qualquer um dos subscritores do Tratado poderá solicitar a sua revisão.
A presença de Portugal no Pólo Sul poderia ser estratégica para o futuro do país, no caso de revisão ou renegociação do tratado, assegurando uma posição para contribuir para decisões sobre o uso sustentável de eventuais recursos e para uma eventual futura repartição do continente. Actualmente Grã-bretanha, Argentina e Chile reivindicam zonas incompatíveis, a Noruega reclama cerca de um terço do continente, cabendo o outro terço à Austrália. Também Nova Zelândia e França têm reclamações (sendo a menor a da última). Existe contudo um sector (aproximadamente um quarto do continente que ainda está por reclamar).
Esta estação polar portuguesa poderia ser construída perto da “Estação Antártica Comandante Ferraz” do Brasil inaugurada em 1984 e localizada na ilha do Rei George, a 130 km da Península Antártica, na baía do Almirantado, na Antártida, com capacidade para até 64 pessoas. Desta forma a base portuguesa poderia beneficiar da relação privilegiada entre os dois países e no quadro da CPLP integrando também cientistas da África lusófona.
Portugal ratificou o Tratado da Antártida em 2010 e tem activo o Comité Polar Português, uma organização científica que promove a investigação e a divulgação sobre as regiões polares, abrangendo áreas como a biologia e a climatologia. Fundado em 2005, durante o IV Ano Polar Internacional, desde então o comité ajudou a consolidar a ciência polar em Portugal, aumentando a colaboração e representatividade nacional e internacional, além de participar no Tratado da Antártida. Seria no contexto e âmbito da actividade deste comité que seria possível instalar uma base permanente, no entanto, admito que isto exigiria um investimento substancial e uma análise rigorosa dos custos, benefícios e do impacto ambiental. Mesmo assim, acredito que os benefícios potenciais em ciência, diplomacia e inovação justificam plenamente o investimento.
Estimo que criar uma base polar na Antártida poderia custar entre 10 e 50 milhões de euros na construção, devido à necessidade de infraestrutura e transporte especializado. A manutenção e operação anuais da base exigiriam entre 1 e 5 milhões de euros, variando conforme o número de pessoal e a duração da presença no local sendo que seria possível começar com uma Base de Pesquisa de Pequeno Porte (10-15 pessoas) incluindo
Cientistas: 3-5 (biólogos marinhos, glaciologistas, etc.);
Pessoal de apoio: 3-5 (técnicos de laboratório, cozinheiros e mecânicos);
Pessoal de manutenção: 2-3 (engenheiro e electricistas) e
Pessoal administrativo: 1 (comandante).
Fica a ideia.