Elementos da geração mais qualificada de sempre da Europa ocidental suspiram por um regresso ao campo. No campo, as comunidades educavam as crianças, protegiam os velhos e cantavam ao desafio. A casa de banho ficava no fundo do porco, o frigorífico ficava à torreira do sol; a sabedoria popular imperava no demais sem competição; o grande assunto de discussão eram as pessoas e os bichos; todos tinham o mesmo tipo de opinião sobre si próprios e exprimiam reservas sérias sobre quem não estava por perto. Havia no demais questões de águas, e questões de vinho. Os invernos eram frios, os verões eram quentes e as primaveras eram mornas.

As comunidades por que se suspira parecem porém sempre insuficientes a quem lá chegou. Não é que se deplore abertamente o comunismo primitivo; mas voltar à terra suscita uma certa vontade de aperfeiçoar o que se encontrou, e desse modo contribuir para o progresso. Os recém-chegados tentam moderar nos bichos a tendência para vaguear pelos nabais; não encorajar as cerimónias em que os porcos participam com menos vontade; introduzir uma economia de subsistência devidamente planificada, baseada na percepção sólida de uma catástrofe planetária; e fomentar o cultivo de espécies vegetais não-autóctones.

A vontade de afeiçoar o campo a nosso gosto indica com probabilidade que quem para lá se muda vai obter aquilo que já tinha na cidade. Com efeito, nas cidades, ao contrário do que se pensa, respeitou-se desde sempre a vontade dos porcos, e cultivam-se há vários anos as principais formas de sabedoria ancestral. Poder-se-á conceder no máximo que no campo existirá uma vida comunitária que vista de fora parece um pouco mais assanhada, com menos pretextos para conversas privadas, segredos e pseudónimos. Faltará também decerto às cidades uma quantidade adequada de parentes afastados e mais violência doméstica; mas em compensação no campo não se anda de bicicleta, e vê-se televisão.

Querer ir para o campo é uma maneira caracteristicamente urbana de pôr as coisas. A tentação não vale a tentativa. Há nas cidades muitos atributos que tornam escusado querer uma vida diferente. Não é exacto que fora do campo vivamos vidas isoladas dos nossos semelhantes, separados da sabedoria do passado. Nas cidades ou nos campos os nossos semelhantes e a sua sabedoria nunca nos faltam: não é preciso ir à procura deles, porque eles se encarregam de nos encontrar. Por toda a parte existe a mesma atracção por quem não se conhece, e a mesma severidade acerca de quem não está nas nossas imediações. Nada do que é alheio nos é estranho; todos participamos das mesmas disposições inquisitivas; e temos a mesma curiosidade uns pelos outros. É essa atracção pela vida do próximo que constitui as comunidades. Para os propósitos relevantes não faz muita diferença o lugar onde nos acontece viver. Somos abelhudos por definição e fazemos parte da mesma colmeia de abelhudos.

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