Começamos a sentir na pele que estamos no limiar do equilíbrio climático, depois do qual as alterações climáticas passam a ser catástrofes climáticas e todas as consequências e impactos são multiplicados.

As notícias de eventos climáticos extremos já não são uma raridade. Num destes dias num noticiário vi as seguintes notícias: incêndio na Grécia é o maior na UE desde que há registos; recorde de temperatura média global; batido recorde de temperatura em Valência; inundações assustadoras na Eslovénia; onda de calor extrema no Sri Lanka, país onde a fome tem aumentado porque a população não consegue cultivar arroz.

A ciência tem permitido que a esperança média de vida aumente, mas é a mesma ciência que nos diz que as alterações climáticas são e serão, direta e indiretamente, o fator que nos diminuirá a qualidade e o tempo de vida.  O aumento da temperatura global tem impacto na propagação, intensidade e duração de doenças infecciosas, na ocorrência de descompensações dos mais frágeis e uma natural sobrecarga dos sistemas de saúde.

As mais recentes ondas de calor deixaram a nu o que será viver nas grandes urbes nas próximas décadas. Cidades sem refúgios climáticos, betão a mais e árvores a menos, edifícios energeticamente ineficientes e jardins sem sombras. Preparar as cidades para a crise climática deve ser encarado pelos líderes políticos locais como o desafio número um dos seus mandatos.

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As medidas são simples e há muito conhecidas:

  • Em cada esquina uma árvore: As árvores são excelentes captadores de carbono, fornecem sombra às casas e ao espaço público, diminuindo a temperatura nas nossas cidades;
  • Renaturalizar linhas de água e rios: As nossas cidades têm dezenas de linhas de água e pequenos rios canalizados. Alguns deles, sendo renaturalizados, podiam ser de usufruto da população em vagas de calor e aumentando a capacidade de retenção em caso de cheia;
  • Eficiência dos Edifícios: uma pessoa que viva numa casa quente (ondas de calor) e húmida (no inverno) tem a sua saúde ameaçada. Tal como acontece neste momento em Portugal com os apoios do Fundo Ambiental, promover o isolamento dos edifícios, climatização eficiente e aposta na energia solar;
  • Criação de refúgios climáticos: Criar e identificar locais das cidades como refúgios climáticos onde as pessoas, perante uma vaga de calor, podem estar à sombra, num jardim e refrescarem-se;
  • Pintar as nossas cidades de branco: Os telhados (ou mansardas) de zinco e os prédios cinzentos são belos e começam a ser presença assídua nas nossas cidades. No entanto, não são minimamente eficientes, retendo calor. Algumas das cidades mais notáveis da europa, como Barcelona, começam a pintar os seus telhados de branco, reduzindo a temperatura e as ilhas de calor;
  • Bebedouros de água no espaço público e parques infantis com sombra;
  • Aposta nos transportes públicos: este ponto não é preciso explicar e é mais do que sabido que menos automóveis resulta em mais espaço para as pessoas, melhor qualidade e temperatura do ar.

É urgente proteger as nossas cidades, protegendo as pessoas dos efeitos desta “ebulição climática” (cito António Guterres).