Há muitos anos que em Portugal se navega à vista e com políticas avulsas e contraditórias entre si, o que limita o crescimento económico e empobrece os portugueses. É o caso, por exemplo, do PRR- Plano de recuperação e Resiliência, uma manta de retalhos de projectos contraditórios para todos os gostos e sem direcção certa. Razão por que gostaria de propor que se aproveite a próxima campanha eleitoral para introduzir no debate público uma síntese estratégica que, com a ajuda do Professor Veiga Simão, publicámos em 2003, como parte da Carta Magna da Competitividade da AIP, síntese que foi a principal razão do meu livro então publicado, “Uma estratégia para Portugal”.

Antes disso, a inspiração resultou de uma estadia no Japão, num curso em que participei sobre inovação organizado pela União Europeia, quando tomei conhecimento das sínteses estratégicas definidas depois da guerra, em 1946 e 1956, sínteses que orientaram a economia japonesa até aos nossos dias. É isso que reproduzo aqui na expectativa de que o debate da próxima campanha eleitoral não passe ao lado, mais uma vez, de dotar a política e a economia portuguesas de algum sentido de direcção.

Estratégia japonesa

1946

“No futuro, a tecnologia representará o papel principal na economia japonesa”
“O sentido principal da reconstrução da economia japonesa é na direcção da democratização da economia e na elevação dos níveis tecnológicos.”

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1956

“O período do após guerra terminou”
“O aumento do investimento através da inovação tecnológica será o elemento principal do crescimento da economia”

Estratégia da AIP

“O futuro de Portugal depende da capacidade de conjugar, a diversos níveis, os desafios e vantagens decorrentes da sua participação na UE com as oportunidades que podem resultar do desenvolvimento das suas relações extracomunitárias, em particular com os EUA e com os países da CPLP.”
“O novo modelo económico (no contexto da União Europeia e da globalização) deve ter um enquadramento mais flexível e privilegiar o desenvolvimentos e modernização dos sectores produtores de bens transaccionáveis, (produtos e serviços susceptíveis de concorrência nos mercados interno e externo) desejáveis nos mercados externos em virtude das suas características de inovação, tecnologia e valor.”
“O factor humano qualificado, culto e motivado; a produção científica e tecnológica organizada e o acesso rápido, fácil e barato ao mundo através das telecomunicações, de sistemas de informação e transportes, são os recursos essenciais.”
“A criação de vantagens competitivas nos mercados europeus tradicionais e a diversificação das relações comerciais e de investimento impõem relações mais intensas da economia portuguesa e do sistema científico e tecnológico com mercados e parceiros exigentes.”
“Em suma, um forte empenho da sociedade portuguesa na economia do conhecimento, baseado num crescimento sustentado, na qualidade e na inovação e orientado para aumentos significativos da produção de bens e serviços transaccionáveis.”

 

Faço um desafio aos leitores, tentem melhorar este texto, retirem ou acrescentem algumas poucas palavras que seja e verificarão honestamente que é tão difícil melhorar os objectivos desta estratégia portuguesa, como é igualmente difícil melhorar os objectivos do texto japonês.

Claro que posso não ser completamente objectivo, na medida em que ando há vinte anos através de simples conversas, em conferências e debates, a tentar convencer os interlocutores que esta ou outra estratégia semelhante é o que falta para que o debate político e económico em Portugal faça sentido. Nos últimos vinte anos a navegação à vista, as decisões de curto prazo, os projectos contraditórios e a multiplicidade de iniciativas sem orientação estratégica, têm empobrecido o País. Por isso, mais uma vez, apelo que no debate eleitoral que agora se vai iniciar, esta estratégia possa ser debatida, apoiada ou contrariada, na convicção de que esse esfoço será profundamente pedagógico no sentido de se compreender que se continuarmos a debater projectos políticos antagónicos, por mais inspiradores que sejam, não sairemos da pobreza em que o País está mergulhado.