Em todas as salas de aula, desde a escola mais humilde na mais modesta aldeia até aos grandes anfiteatros das mais prestigiosas universidades, ocorre uma interação silenciosa e quase invisível, mas absolutamente profunda; uma interação que ultrapassa qualquer barreira ou físico formado pelas paredes de cimento ou pedra desse espaço de ensino. Pensemos: ensinar é, muitas vezes, visto como uma mera transferência quando, na realidade, é um potente ato de poder. Como a mão firme que molda o barro, também os professores formam mentes, criando futuros e determinando o curso da história.

Esta ideia foi já advogada pelo filósofo Michel Foucault, que considerava que o poder não era uma coisa, mas uma relação: uma dinâmica que se manifesta nas interações entre pessoas (no ensino, essa ideia de poder como relação torna-se especialmente evidente). Professores e alunos encontram-se num campo de interações contínuos, onde o poder não é apenas imposto verticalmente, de cima para baixo, mas circula, influenciando e sendo influenciado. Neste sentido, as dinâmicas de sala de aula funcionam quase como uma dança: professores e alunos movimentam-se, adaptam-se uns aos outros, o que significa que moldam e são moldados pela presença do outro.

No centro desta dança está o poder de influenciar e despertar. Assim, e perdoem-nos o uso, quiçá, excessivo de metáforas e analogias, podemos encarar um professor do mesmo modo como encaramos um jardineiro: um professor planta sementes de curiosidade e conhecimento em mentes jovens e férteis. Essas sementes, quando devidamente cuidadas e atendidas, crescem e tornam-se grandes árvores de sabedoria e compreensão. Então, o ato de ensinar não consiste apenas na transmissão de informações; é antes o cultivo do solo, garantido que as raízes do pensamento e da criatividade se fixam. No entanto, é necessário que os professores exerçam a sua influência com responsabilidade e cautela, na medida em que o poder que possuem pode tanto nutrir como atrofiar o conhecimento. Quando usado com sabedoria, é capaz de promover uma floresta de ideias diversas, onde os alunos aprendem a questionar, explorar e criar; quando mal utilizado, pode podar o potencial, deixando para trás uma paisagem de uniformidade e pensamento reprimido.

Portanto, como o vento que molda montanhas ou o rio que esculpe vales, o verdadeiro poder do ensino é quase invisível e o seu impacto apenas é notório a longo prazo. Em muitas sociedades, entre as quais a nossa está, pelo menos em parte, incluída, ensinar é visto como uma profissão humilde, que carece do glamour ou das recompensas financeiras de outras carreiras; porém, essa perceção não reconhece o imenso poder do ensino: o poder de formar indivíduos, construir comunidades e criar um mundo melhor. É um poder que, embora invisível, merece não apenas reconhecimento, mas também um profundo respeito e um apoio inabalável.

Definitivamente, à luz da visão de Foucault sobre o poder como relação, podemos entender que ensinar não é apenas transmitir conhecimento: é moldar o próprio tecido do nosso mundo, em constante interação e movimento. Porque os professores não são apenas professores: são, entre outras coisas, os arquitetos do futuro coletivo; os jardineiros das nossas cognições; os guardiões dos nossos espíritos. Os professores têm nas suas mãos o poder de transformar não apenas vidas individuais, mas a trajetória de sociedades inteiras. E é assim que, em cada lição ensinada, em cada pergunta feita ou em cada sujeito inspirado, o verdadeiro poder do ensino é revelado: um poder que, como o vento e a fé, pode mover montanhas.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR