Desde o primeiro momento sentimos que a missão era única e especial, que nos transpunha para uma dimensão e um caminho que iriamos trilhar em conjunto, nós e o Papa Francisco.
Acreditar, nas pessoas em primeiro lugar; naquilo que têm para dar, nos talentos colocados ao serviço do outro. No objetivo maior que era possibilitar a realização de uma Jornada única, de um encontro sem precedente em Portugal.
A dimensão dos eventos da JMJ nunca nos assustou. Acreditávamos verdadeiramente que seria possível. Foram dados asas e recursos para que um grupo de pessoas com boa vontade, muitos deles muito jovens, pudessem idealizar e concretizar o projeto da saúde na Jornada Mundial da Juventude Lisboa 2023.
Desde o primeiro momento, a equipa de saúde enfrentou um desafio que pedia grande dedicação e entrega, bem como imaginação e espírito empreendedor. Desde a configuração daquela que veio a ser a resposta ao nível dos cuidados de saúde, com postos de socorros articulados com o sistema de saúde nacional, às necessidades e condições logísticas para a sua implementação. Etapa a etapa, foram surgindo outras necessidades, outras questões careciam de respostas.
Com escassos dados de saúde de Jornadas anteriores, era necessário haver um sistema de registo das ocorrências para que se pudesse documentar e assegurar a próximas jornadas uma casuística real. Reconhecida a doença mental como um dos principais riscos das gerações mais novas, tornou-se fundamental assegurar uma resposta dirigida a esta área, que se revelou um sucesso com múltiplas ocorrências a serem atendidas nas zonas da calma, criadas pela primeira vez numa Jornada.
Sabíamos que vinham peregrinos com necessidades especiais de saúde, que precisavam de um apoio individualizado e adaptado, bem como pessoas de faixas etárias mais elevadas que poderiam necessitar de outro tipo de intervenção de saúde, pelo que tivemos equipas especializadas e diferenciadas e realizar este atendimento, sempre com profissionais voluntários.
E assim foi crescendo a equipa, diferenciando-se para responder aos mais diversos desafios.
Nos recintos dos grandes eventos, tivemos um rácio de um posto de socorro para cada 30.000 pessoas, com equipas fixas e equipas móveis, com voluntários de saúde organizados em equipas multidisciplinares e com vários níveis de experiência profissional, e que articulava com a estrutura de resposta da emergência médica nacional.
Criámos um total de 16 postos de Socorro na Colina do Encontro, 54 postos no Campo da Graça e 15 postos em eventos secundários. Foram registadas um total de 5511 ocorrências na aplicação informática criada para o efeito. Os dias que tiveram um maior registo de ocorrências de saúde foram o dia 4 (711; 26,4%) e 5 de agosto (575; 21.4%). As principais causas foram ferimentos ligeiros, dores de cabeça (em muitos casos relacionadas com a exposição a temperaturas elevadas) e trauma minor (quedas, entorses).
Mais de 70% das ocorrências de saúde foram resolvidas por estas equipas de voluntários nos locais dos eventos. Apenas 3% necessitaram de evacuação para hospitais centrais, o que permitiu que se evitasse a sobrecarga do sistema de saúde.
O nosso trabalho foi assente em voluntariado. Esse precioso e diferenciado trabalho dos nossos voluntários de saúde que, sem hesitar se entregaram e permaneceram horas seguidas a socorrer quem necessitasse.
Sabíamos também que a JMJ ia acontecer numa semana particularmente quente, e desde cedo trabalhamos na prevenção e na promoção da saúde. Desde os conteúdos divulgados nos canais de comunicação da JMJ, à disponibilização gratuita de protetor solar e água, ao chapéu e cantil que integravam o kit, todos concorreram para que as consequências da onda de calor fossem minimizadas.
Foi grande o desafio, mas foi maior a satisfação; de ver e sentir como quem se juntou a nós deu de si e fez acontecer este serviço à JMJ.
Quando olhamos para trás e vemos o caminho percorrido percebemos que foi possível o trabalho da equipa graças a um enorme espírito de companheirismo, de brio, de emoção e de vontade de fazer mais e melhor. A nossa Jornada foi o caminho até lá chegar.
Portugal deixou a sua identidade na entrega ao mundo e a um encontro em que os jovens deixaram a sua marca de alegria e de paz. E nós com eles, felizes por acreditar ter feito a diferença.