Fez ontem três semanas desde o dia em que não sabemos para onde nos virar. É difícil ir trabalhar, jantar fora e sair à noite sabendo de tudo o que se está a passar tão perto de nós. Se por um lado fazemos tudo o que podemos para ajudar, por outro temos a plena consciência de que nada é suficiente.
Está tudo ao contrário. Um antigo comediante nunca esteve tão longe de rir, um século XXI nunca esteve tão longe de ser pacífico e um país que tem lutado tanto pelo seu crescimento, independência e autonomia está agora a ser invadido sem que a sua voz conte minimamente.
Para além de um ataque desmesurado à democracia, liberdade e aos direitos humanos, desprovido de qualquer sentimento de compaixão e empatia, esta atitude vil põe em causa a estabilidade mundial e, como sequela, incita o pânico e ansiedade de milhares de populações.
Segundo dados da ONU, o número de refugiados ucranianos para países vizinhos chegou às 875 mil pessoas e este número não tende a diminuir.
Vladimir Putin, líder de um regime corrupto oligárquico, que censura a liberdade de imprensa, parece estar decidido, do alto da sua montanha, a mostrar a todos a sua supremacia, sem que a sua expressão mude por um segundo. Um homem vazio por dentro que, apesar de (também ele) perder vidas humanas a cada minuto, não se deixa perturbar, com a intenção de tentar recriar uma espécie de União Soviética, frisando várias vezes que “a Rússia e a Ucrânia são um”.
Ainda assim, constatamos que a Rússia está a atuar cada vez mais a solo e esta guerra, apesar de estar longe de terminar, já tem um vencedor unânime. Depois de cimeiras frívolas, verificámos que a esmagadora maioria dos países das Nações Unidas votaram contra esta invasão e mesmo países próximos da Rússia (Cuba, Nicarágua e Venezuela) se abstiveram. Putin cavou um isolamento internacional e pode apenas contar com a Síria, Bielorrúsia, Eritreia e Coreia do Norte.
A despeito da utilização de armas nucleares como tentativa de ameaça, muitos peritos consideraram existir uma fragilidade e insegurança por parte deste ditador, que não esperava encontrar tanta resistência ucraniana nem assistir ao forte vínculo que se criou na União Europeia. Os movimentos solidários em vários países da Europa em frente às Embaixadas e Consulados russos influenciaram os seus líderes a tomar decisões para pôr fim a esta tragédia. A União Europeia começou branda, mas nos últimos dias tocou na ferida, retirando os bancos russos do Swift (o que prejudica e muito os oligarcas russos) e apoiando militarmente (através de financiamento) a Ucrânia. Está a acontecer o inimaginável. Países que sempre adotaram uma postura neutra (como a Suíça) estão a dar pela primeira vez a cara e os pedidos de adesão à NATO e à União Europeia (considerada um escudo protetor) têm aumentado. Ainda que as sanções atenuem, não resolvem o problema na sua totalidade, dado que muitas só têm efeito a longo prazo e, idilicamente, deveriam ter no imediato. A verdade é que exército russo é quatro vezes superior ao ucraniano e este último não tem nenhum acordo bilateral com nenhum país para o ajudar. A NATO e a ONU estão cingidas às suas limitações, dado que a Ucrânia não pertence à primeira e, apesar da carta das Nações Unidas ter sido violada, a Rússia tem direito de veto no Conselho de Segurança. Uma vez que estão envolvidas armas nucleares seria no mínimo perigoso entrar por essa via.
Zelenskyy está a comportar-se como um verdadeiro herói e a mostrar perseverança, coragem e força desde o início desta violação. Se há três semanas atrás muitos de nós não o conhecíamos, agora todos o admiramos e vemos como um exemplo, com um respeito imenso pela sua integridade. Deixou a família para trás e tem vindo a lutar pelo e com o seu país depois de receber ajudas externas para escapar.
Em circunstâncias de tamanha dissimilitude, numa luta desigual entre ditadura e democracia, por norma as ditaduras estão tão presas ao seu objetivo que aguentam com mais facilidade os problemas de teor económico e social, o que não apazigua nem acelera o fim desta guerra. Vivemos e viveremos tempos conturbados onde um país inteiro é destruído e o desespero impera sobre famílias que se separam sem data marcada para o reencontro.