1Chegará em breve o momento em que me caberá responder às perguntas dos senhores deputados na Comissão Parlamentar de Inquérito sobre a TAP. Anseio pela oportunidade, mas julgo que tenho o dever, perante os portugueses, de contextualizar atempadamente algumas das afirmações que têm sido proferidas por alguns ex-governantes e que, porventura, terão escapado à atenção dos deputados e de quem tem acompanhado – creio que com perplexidade – as audições.

Mas, por ora, não posso remeter-me ao silêncio perante o que parece ser uma estratégia clara de ex-governantes de esconder os seus erros e desviar a atenção do que foi realmente a gestão pública da TAP nos últimos anos, à custa da minha honra e reputação. Não admitirei mesmo.

2Uma mentira repetida muitas vezes não se torna verdade. E, por isso, repito a única verdade sustentável pelos factos, documentos e pareceres indisputáveis: a proposta da Atlantic Gateway para a compra da TAP foi transparente e explicada em pormenor à Parpública em 2015, antes de a privatização ser concluída e com todo o detalhe que nos era – e bem – exigido.

Assim, o Governo do PSD e CDS conheceu e aprovou a nossa proposta. Agora, sete anos depois, alguns membros do Governo do PS dizem que não sabiam do assunto, numa tentativa de se exonerarem de responsabilidades que qualquer governante responsável e competente sabe que são suas quando assume o poder. Das duas uma: ou não dizem a verdade ou nunca consultaram os documentos e as cartas que entregámos à Parpública e ao Governo PSD nem os pareceres dados na altura, hipótese que não deve ser aceitável para nenhum contribuinte e que certamente não é aceitável para mim. Ou não fosse a Parpública uma empresa do Estado, tutelada pelo Ministério das Finanças e não uma sucursal do Governo A ou B.

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Então depois de tantos Ministros e Secretários de Estado, de tantos administradores que passaram pela TAP e tantos advisors, bastam-se com o encolher de ombros e dizer que não leram os documentos num dossier tão relevante para o País?

Então, ao longo de todos estes anos (sete!) não consultam o assessor do Governo socialista, em todo o processo da reversão parcial e que depois se tornou administrador da TAP, peça chave de toda a negociação? O mesmo que disse na CPI que, desde o início de 2016, conhecia e estava de acordo com o modelo de capitalização através dos ditos fundos Airbus mas também com o nosso plano estratégico que passava pela troca de aviões?

E, se não estavam de acordo, porque não pararam a capitalização dos ditos fundos Airbus que foram aportados em tranches ao longo do ano de 2016, quando já eram os governantes?

3Em 2015 apresentámos nove avaliações do preço dos aviões por entidades reputadas e independentes. Todas disseram o mesmo: os preços negociados eram um grande ativo para a TAP. Não posso deixar de questionar porque é que nove (3 por cada modelo!) avaliações independentes, assinadas por três entidades cuja reputação é absolutamente inatacável, são desvalorizadas e até ignoradas. Os ex-governantes ouvidos na CPI contrapõem e geram antes uma obsessão pública por uma avaliação que é tudo menos independente, que foi encomendada em 2022, pelo Governo do PS, através da própria TAP, numa altura em que estava já claro para o Governo atual que a intervenção pública na TAP tinha sido uma decisão ruinosa para o Estado português.

Uma avaliação que é opaca, com critérios que ninguém conhece, que não foi tornada pública e que provavelmente usou como referencial preços pós-pandemia. Também não sabemos se os preços dos aviões são sequer comparáveis. São preços com ou sem recheio ? E com que tipo de recheio? E as datas da encomenda e das 53 entregas são similares? No preço de um avião há tantas variáveis que podem resultar em diferenças de milhões para o mesmo modelo. E sem conhecermos a dita avaliação é impossível responder a ela. Muito conveniente para quem quer diabolizar o investidor estrangeiro e passar a mensagem de que o “mau” do empresário americano privado (que levou a companhia de um valor negativo de 512 milhões até ao valor positivo de 1.000 milhões sem um euro de investimento público) é o culpado da ruinosa gestão pública da TAP.

Será também de nos questionarmos – com igual perplexidade – porque é que, se durante sete anos o Governo ou a gestão pública da TAP tinham dúvidas sobre os preços dos aviões negociados, porque nunca perguntaram à própria Airbus se os preços a que vendeu à TAP eram similares a preços de aviões do mesmo modelo praticados a outras companhias aéreas na mesma altura.

Mais. Se tinham dúvidas ao longo destes sete anos, porque nunca perguntaram às empresas de leasing que financiaram a TAP na compra dos aviões, se tinham financiado ativos acima do seu preço de mercado?

A Airbus só ajudou a TAP, aceitando a troca de encomendas dos aviões e dando a sua contribuição financeira, porque acreditava em mim e na nossa equipa, na minha experiência na indústria da aviação e, principalmente, porque confiava que o nosso plano estratégico para a TAP iria permitir um turn around da empresa, o que aliás se veio a confirmar. A Airbus ajudou a evitar a falência do seu cliente TAP e contribuiu para a solução e para o nosso plano estratégico.

4 Mas, já agora, recordemos com factos e não narrativas políticas o destino da capitalização, talvez as questões mais essenciais: a capitalização feita em parte com a ajuda da Airbus não ficou toda na TAP? E não foi utilizada pela empresa cumprir os seus compromissos de tesouraria e para pagar salários? E os créditos dessa capitalização não ficaram para o Estado que, entretanto, os capitalizou?

Mais: esquecem-se dos 90 milhões que consegui convencer a AZUL a emprestar à TAP em 2015, a muito longo prazo a pagar juros só no vencimento, quando ninguém financiava a TAP sem garantia do Estado, empréstimo esse que aliás ainda não foi reembolsado?

A dura verdade que alguns dos ex-governantes deveriam ter a coragem de assumir é que, se a nossa equipa não tivesse vindo para a TAP em 2015, a encomenda dos A350 e os 40 milhões adiantados pela TAP teriam sido perdidos. A Airbus disse-o por escrito. Porque insistem em ignorar tal carta?

Porque ignoram que o preço que pagámos do nosso bolso pela TAP foram 10 milhões de euros, por uma empresa que tinha 600 milhões de capitais próprios negativos?

Porque ignoram que o Estado só tinha 5% dos direitos económicos, pelo que os dividendos deveriam ser a sua menor preocupação, sobretudo num contexto de paz laboral, sem despedimentos, com contratação de mais 2000 trabalhadores e com crescimento da companhia?

Porque ignoram que, se tivéssemos feito uma redução significativa de trabalhadores e um corte de 20% nos salários, como este que resultou do atual plano de reestruturação do Governo do PS, teríamos tido lucros substanciais em todos os anos da nossa gestão?

Porque ignoram que, em 2019, conseguimos que a TAP tivesse pela primeira vez crédito junto dos mercados internacionais sem qualquer garantia do Estado português, tendo-se financiado em 590 milhões de euros?

Porque ignoram que reduzimos em mais de 400 milhões de euros a exposição do Estado e da Parpública à dívida da TAP durante os quatro anos da nossa gestão?

Porque ignoram que aumentámos o Ebitdar da TAP S.A. de 157M em 2015 para 523M em 2019 e com isso aumentámos as contribuições e impostos para o Estado de EUR 257M para EUR 330M por ano?

Porque ignoram que reduzimos em mais de metade o rácio de dívida sobre Ebitda da TAP de 11x para 5.1x?

Porque ignoram as avaliações feitas em 2018 e 2019 por bancos internacionais que avaliavam a TAP entre EUR 637M e EUR 1.035M, que entregámos à Parpública e que criavam condições para um IPO da TAP SGPS que teria permitido uma capitalização robusta nessa altura?

5O nosso plano permitiu salvar a TAP em 2015 e nos anos seguintes. Sem a solução da capitalização e o know how de gestão que trouxemos, hoje a TAP possivelmente já não existiria. Ou então, a alternativa teria sido uma reestruturação semelhante à ocorrida com a pandemia e, portanto, à custa dos contribuintes.

A evolução da TAP 2015-2019

Responderei a todas as perguntas da CPI muito em breve e esclarecerei várias outras questões, entre as quais como se desenvolveram as negociações com a Comissão Europeia sobre o apoio do Estado e os erros cometidos, mas também sobre as ingerências e pressões inaceitáveis do poder político sobre a comissão executiva da TAP durante a nossa gestão.

As empresas de aviação que criei e os empregos que gerei em vários continentes e que se mantêm com enorme sucesso, falam por mim e pela minha reputação. Mas repito: não deixarei que alguns políticos e ex-governantes queiram distrair os portugueses dos graves erros da gestão pública da TAP à custa da minha honra e reputação.