Entre 1810 e 1820, Francisco de Goya imprimiu os pesadelos da Guerra Peninsular que assolou os seus compatriotas. 200 anos depois, Los desastres de la Guerra permanece como um lembrete pertinente das absurdidades de guerra. Numa pintura, testemunhamos cadáveres espalhados, com pelotões de fuzilamento em destaque ao fundo. A sua grandiosa obra foi uma visão profética do que sucederia nos anos vindouros!

Desde a introdução do constitucionalismo em 1812, o cenário político de Espanha tem sido marcado por ideologias divergentes que ameaçaram o país com a ruína, culminando em conflitos sangrentos ao longo do século XIX. Eles não se saíram melhor no século XX.

Os fracassos de Miguel de Primo Rivera – que foi apoiado pelos militares e pelos sindicatos – em aumentar os padrões de vida levaram à sua renúncia, com o rei fugindo pouco tempo depois, com as eleições municipais de 1931 a balançar o pêndulo político ainda mais para a esquerda! Com o advento da Segunda República, a Coroa, a Igreja e a Fé estavam em perigo, denunciadas como símbolos reacionários.

A tranquilidade tornou-se a exceção. Um lumpenproletariado espanhol degradado e um proletariado impregnado de doutrinação marxista fomentavam a agitação social, juntamente com a incompatibilidade parlamentar com a alma espanhola, levando ao estoiro da Guerra Civil Espanhola, aos massacres em massa da oposição e daqueles que eram devotos a Deus, cujo único crime foi rejeitar a causa republicana! Vladimir Antonov-Ovseenko e a seu gangue de agentes soviéticos na Catalunha cometeram horrores indescritíveis em benefício do comunismo inter(nacional). Gritar “viva Espanha” era suficiente para justificar a pena de morte pela esquerda!

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A vitória nacionalista sinalizou uma derrota para o expansionismo soviético, não uma derrota para o socialismo em si, pois o Generalíssimo Francisco Franco embarcou em políticas de autarquia e controlo de preços até ao final dos anos 50. A população languia na pobreza através de escassez, desvalorizações, sobrevivendo graças ao mercado negro – o verdadeiro mercado livre, longe das regulamentações e controlos estatais!

No entanto, a Revolução Industrial Espanhola concretizou-se graças ao “milagro económico” de 1959, liderado por Alberto Ullastres e Laureano López Rodó (um amigo de Marcello Caetano, que não emulou o sucesso do seu homólogo espanhol enquanto primeiro-ministro), membros do Opus Dei que foram inspirados pelo ordoliberal católico Wilhelm Röpke.

Eles apresentaram a Franco um Plano de Estabilização induzindo cortes nas despesas governamentais, desvalorização da moeda, abolindo o protecionismo e abrindo Espanha ao comércio internacional. Franco respondeu: “Senhores! Vocês devem ter sucesso – mas aviso em caso de falha!”.

Apesar do sucesso económico de Espanha, o Estado Social começou a tomar forma seriamente, e os sindicatos estatais – restos do corporativismo – impuseram leis laborais rigorosas que impediam que trabalhadores ineficientes perdessem facilmente os seus empregos. Este é o legado deixado por Franco, que deixou aberto o aparelho do Estado para os socialistas transformarem o país num fosso impiedoso de corrupção, desordem e decadência.

Quer em democracia ou numa ditadura militar (que é maleável, portanto, não totalitária), os principais elementos que permaneceram consistentes foram a intervenção estatal, o estado providencial e a censura. Mas é pior sob o primeiro devido à hipocrisia moral que adorna o atual governo de Sánchez de um escrutínio sério.

A presença da monarquia tem sido um baluarte de alguma estabilidade, mas com a inanidade da ética a percorrer a liderança espanhola, o alto desemprego entre os jovens, a imigração em massa, quem sabe quanto tempo levará até que os republicanos socialistas decidam fechar o negócio democrático e estabelecer um regime déspota (previsto já por Platão) e progressista que ameaça dividir Espanha entre os ortodoxos e heterodoxos, alinhada com a agenda global de 2030?

Afinal, o ódio da esquerda por Franco não é sem fundamento: ele era afinal de ascendência sefardita (sefarad) que forneceu um refúgio para judeus fugidos da máquina de guerra nazi. Um contraste marcante com Pedro Sánchez a reconhecer a Palestina, e Yolanda Díaz a defender uma Palestina do rio ao mar. Claro, todo o antissemitismo é simultaneamente uma manifestação de anticapitalismo. Socialistas precisam de vítimas!

Ou o Sánchez a criar incidentes internacionais com o presidente Libertário argentino, Javier Milei, por este último apontar a verdade sobre os negócios corruptos da sua esposa. Os socialistas, descartando toda a verdade, dispensam o seu próprio senso de realidade através da censura. Por exemplo, as ameaças contra Vito Quiles por relatar que Óscar Puente não sabia estacionar o seu veículo corretamente. A baixa autoestima manifesta-se em ódio e violência, como Nietzsche nos alertou.

Uma Espanha culturalmente heterogénea sempre caracterizou o país. Os catalães veem os seus “senhores” castelhanos como simplórios disciplinadores, enquanto os primeiros são criticados como materialistas afrancesados interessados apenas em ganho monetário. O nacionalismo basco é outro problema, pois os carlistas sempre respeitaram os direitos antigos deste povo – Filipe VI pertence à Casa de Bourbon, que no passado tirou os seus fueros (privilégios de independência). “Um povo abençoado, se não for perturbado”, como diz o adagiário.

O regionalismo ferve e os movimentos separatistas são incitados à ação. Um caldeirão fumegante desde as negociações de Sánchez com os nacionalistas catalães, bascos, galegos e canários permitiram-lhe continuar o seu papel como primeiro-ministro (ditatorial). Esta em movimento uma nova guerra civil (no passado, até os monárquicos lutaram entre si)? Quantas Espanhas serão formadas? O futuro de Espanha está em jogo, enquanto a esquerda luta eternamente contra os “conservadores reacionários”.

Ironicamente, foram os tradicionalistas carlistas, os “Apostólicos” de “Deus, Pátria e Rei”, que defenderam o federalismo, contrastando com Isabel II, que centralizou o poder político.

Não há espaço para compromisso, e a intransigência na implementação de políticas socialistas é uma receita para o desastre. Consequências terríveis do grande Estado!

Uma solução politicamente intermediária é uma monarquia cristã forte que unifique a nação com grupos de interesse representativos. Um Estado mais pequeno (até inexistente) deve ser a prioridade, no entanto. Não à revolução ou à evolução perigosa!

Os espanhóis são um povo obstinado, facilmente excitados pela liberdade, quixotescos nas suas ambições e dificilmente persuadidos a seguir o coletivo em unidade; empalá-los com burocracia rígida irá corroê-los e eles explodirão em raiva. Amadeo I de Sabóia abdicou das suas responsabilidades como rei em 1873, reclamando que os espanhóis são impossíveis de governar.

No final de El Sentimiento Trágico de la Vida, Miguel de Unamuno reza a Deus pela glória de Espanha, não pela paz! Unamuno, afinal, era um basco, região profundamente católica, povoada por um povo extremamente industrioso com o temperamento de um leão. Os espanhóis não devem ser provocados!