Parecia algo do passado, mas vivemos recentemente o drama das doenças infeciosas em pleno século XXI. A COVID-19 teve um impacto enorme na vida das pessoas com marcas muito visíveis nos que faleceram, nos que estiveram internados, nos seus familiares e amigos, e em todos nós, no medo de perecer perante esta nova ameaça, com reflexo importante a nível da saúde mental, que ainda demorará a desaparecer. Mesmo tendo deixado de ser uma emergência de saúde pública, o vírus continua em circulação, com risco para a saúde individual e colocando pressão nos serviços de saúde.

A vacinação foi o momento de viragem na luta contra a pandemia da COVID-19. As vacinas permitiram a erradicação da varíola, a eliminação da poliomielite de quase todas as regiões do mundo e o controlo de muitas outras doenças infeciosas como o sarampo, rubéola e tosse convulsa. Na pandemia, a vacinação permitiu reduzir a transmissibilidade do vírus e a severidade da infeção, pela eficácia das vacinas e pela adesão maciça da população, sobretudo dos adultos, classicamente arredados da importância do cumprimento vacinal. Controlada a COVID-19 e afastado o foco mediático, ficam muitas outras doenças que podem ser controladas pela vacinação nos adultos. É fundamental que os governos e a União Europeia (EU) como um todo continuem a priorizar a inovação em matéria de vacinas, apostando no financiamento em investigação. Atualmente, a maioria dos países na UE gasta cinco euros per capita ou menos em vacinas, quando sabemos que cada euro gasto na vacinação dos adultos (a partir dos 50 anos) garante um retorno estimado de 4 euros em receitas económicas.

Falta uma estratégia europeia (e nacional) de vacinação para os adultos, promovendo um alargamento dos programas nacionais de vacinação e proporcionando o acesso equitativo às vacinas mais recentes capazes de controlar um conjunto de infeções comuns nos adultos. A vacinação dos adultos tem de ser vista como um investimento na saúde, não como um gasto, permitindo sistemas mais resilientes e sustentáveis, enquanto ferramenta poderosa que previne doenças, salva milhões de vidas todos os anos, poupa dinheiro e contribui para um forte crescimento económico, sobretudo em Portugal, um dos países mais envelhecidos naquele que é cada vez mais o “Velho Continente”. Dados do Eurostat (2020) colocam Portugal abaixo da média europeia com um investimento de 38,63 € per capita em cuidados preventivos contra 113,04 € na UE-27, o que contribui para o sétimo lugar a contar do fim no número de anos de vida com saúde, um indicador muito sensível ao estado de saúde das pessoas.

Numa sociedade envelhecida, o futuro de Portugal e da Europa terá de passar pela promoção de políticas que fomentem a inovação e estabeleçam um quadro para um intercâmbio transparente e inclusivo, que permita um acesso equitativo aos programas de vacinação ao longo da vida, prevenindo as doenças e promovendo a saúde, mais do que reagindo a cenários de emergência como o que experienciámos recentemente. Este investimento em práticas preventivas é fundamental para garantir a sustentabilidade dos nossos sistemas de saúde, permitindo a todos viver mais anos e com mais saúde.

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