Para combater a pandemia é essencial que todas as estruturas de prestação de saúde tais como hospitais, centros de saúde, farmácias e laboratórios não tenham quebras de funcionamento por incapacidade ou indisponibilidade dos seus profissionais e dos seus meios de assistência. Como tal, todos os profissionais que garantem o serviço de saúde deverão estar prioritariamente contemplados no programa vacinação, de forma a que se possa garantir a continuidade e o pleno funcionamento das instituições.

O programa de vacinação em Portugal começou, e muito bem, por dar prioridade aos profissionais de saúde, com o objetivo de evitar quebras na capacidade de resposta da prestação de saúde aos portugueses. É primordial que os profissionais de saúde não sofram as consequências da pandemia de forma a que possam garantir a sua disponibilidade para prestar serviço a toda a população. Mas para que a prestação louvável e inestimável destes profissionais continue fluida e continua, temos de garantir que as instituições onde trabalham acompanhem as suas necessidades sem sobressaltos nem interrupções.  Nesse sentido, os profissionais que servem as estruturas que garantem a atividade dos profissionais de saúde devem também, pelo menos em parte, ser alvo de priorização no programa de vacinação. Creio que os hospitais estão a trabalhar nesse sentido nos seus contactos com a DGS. De facto, cada instituição saberá quem é prioritário para o seu normal funcionamento.

Há muitos colaboradores dentro das instituições onde os profissionais de saúde trabalham, que deveriam também ser prioritários no programa de vacinação, pois eles dão suporte logístico e operacional a esses profissionais, contribuindo para que o trabalho possa continuar sem atropelos. A operacionalidade de um hospital impõe que os seus profissionais manuseiem equipamentos e dispositivos médicos que requerem assistência técnica, estando esta contratualizada com os seus fornecedores. Esta assistência técnica é muitas vezes solicitada para alguns procedimentos cirúrgicos e de diagnóstico, sendo prestada durante os próprios procedimentos. Ou seja, o manuseamento da tecnologia médica por parte dos profissionais de saúde requer, em alguns casos, a presença de profissionais competentes que, não sendo funcionários do hospital, são imprescindíveis nos procedimentos de forma a garantir a sua execução. Estes profissionais trabalham diariamente dentro dos hospitais e deveriam ser considerados também como prioritários no programa de vacinação. Mas não o são, ou pelo menos assim não foram considerados em Portugal até agora, embora, em muitos casos, os concursos públicos de fornecimento de tecnologia médica obriguem a que esse serviço seja garantido. A Apormed, Associação Portuguesa das Empresas de Dispositivos Médicos, solicitou a integração nas primeiras fases da vacinação de alguns dos colaboradores das empresas representadas, apenas os essenciais para o funcionamento das instituições, para apoio tecnológico aos doentes e aos profissionais de saúde bem como para fabricantes de dispositivos médicos em Portugal. A resposta do ex-coordenador foi negativa e o atual ainda não respondeu a um segundo pedido. Importa referir que o mesmo pedido foi solicitado em outros países da Europa, onde casos como a Alemanha, o Reino Unido e a Itália acolheram o pedido e incluíram estes profissionais nos programas de vacinação. A razão é simples: nestes países as autoridades reconhecem estes profissionais como essenciais e integrantes nos sistemas de saúde. Esse reconhecimento em Portugal poderia começar pela sua inclusão no programa de vacinação.

O importante é garantir que todos os doentes sejam tratados pelos profissionais de saúde, sendo que estes também precisam que o equipamento e o suporte técnico nos procedimentos aos doentes seja garantido pelos fornecedores dos hospitais, permitindo-os cumprir o contratualizado com o menor impacto possível provocado pela pandemia. Faltando um elemento na cadeia de cuidados de saúde, ela perde eficácia e mais doentes ficarão por ser tratados. Importa definir que elementos da cadeia são realmente essenciais.

Algumas medidas precisam apenas de coragem, racionalidade e mente aberta, desprovida de preconceitos com a certeza de que, quem trabalha em saúde, compromete-se sempre de forma missionária na dedicação ao doente, independentemente da instituição empregadora.

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