O Coletivo pela Libertação da Palestina exibiu com orgulho no seu Instagram uma ação de “ativismo”, que consistiu em pintar com tinta vermelha a fachada de uma loja de roupa. O motivo? Protestar contra uma campanha publicitária dessa marca, que afirmam ser demasiado semelhante à realidade em Gaza.

Ao procurar pelas imagens da campanha (entretanto retiradas do site e das redes sociais da marca) e pela justificação da marca para a mesma, descobri que o objetivo era recriar imagens de esculturas inacabadas, para mostrar peças de vestuário feitas à mão num contexto artístico. A marca explicou ainda que a campanha foi concebida em julho e fotografada em setembro; recordo que o mais recente episódio deste conflito começou no dia 7 de Outubro, quando o Hamas atacou Israel.

Entendo e aceito pacificamente que uma imagem pode dar azo a múltiplas interpretações, algumas até antagónicas entre si. Não pretendo debruçar-me demasiado sobre este ponto, mas considero apenas intelectualmente desonesto ver pessoas acusarem a marca de uma suposta intencionalidade em “enviar uma mensagem” sobre este conflito, quando a mais recente escalada de violência só teve início quando esta campanha já tinha sido feita.

Aquilo que este coletivo protagonizou chama-se vandalismo. Seria à mesma vandalismo se tivesse sido feito por ativistas Pró-Israel ou em defesa de qualquer outra causa. Pintar paredes, vandalizar edifícios, agredir pessoas com objetos ou tinta, esvaziar pneus ou qualquer outra ação que prejudique alguém ou uma entidade não é ativismo. Querer defender um ideal, por muito meritório que ele seja, fazendo mal a terceiros é apenas pôr mais achas na fogueira e contribuir para escalar a violência.

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Achei interessante na publicação do Instagram do Coletivo o comentário de uma Palestiniana a pedir que não se tomassem atitudes destas, pois não é assim que se mostra apoio à Palestina. Outra pessoa pedia que se parasse com estas ações pois assim não iam mudar as mentalidades e só iriam colocar as pessoas mais revoltadas contra a Palestina. Algumas pessoas responderam-lhe, com a sabedoria de quem lida diariamente com o conflito armado e a insegurança extrema que se vive em Portugal, explicando-lhe que palavras já não eram suficientes e que era preciso sujar as mãos (e os edifícios) na defesa desta causa. Em resposta, a rapariga Palestiniana dizia que Portugal é um país lindo, que não o deviam estragar e o melhor era pensar como se pode contribuir para uma mudança, sugerindo outras formas de protesto pacífico.

Portanto, uma pessoa cujo país está em guerra, que tem familiares presos e em risco de vida, consegue ter um discernimento melhor e mais moderado sobre o modo como defender uma causa, do que aqueles que vivem no conforto da paz em Portugal. Dava para rir se o assunto não fosse demasiado sério.

É um erro pensar que é assim que se faz ativismo. É um erro ainda maior considerar este o caminho para a Paz. Há muitas outras formas, civilizadas e sem prejudicar alguém, de se lutar pelos ideais que defendemos: organizar manifestações, escrever artigos de opinião, organizar sessões de esclarecimento, conferências e debates, solicitar audiências com elementos políticos, distribuir panfletos sobre o tema, pedir tempo de antena aos meios de comunicação e mais exemplos haverão.

A questão Israel/Palestina é extremamente complexa. É absurdo olhar de forma simplista para esta situação como ou se apoia um ou outro. Há zonas cinzentas em temas como este, que existem há longos anos e estão repletos de culpas de parte a parte. Entendo que haja uma maior identificação com determinado posicionamento, seja por motivos religiosos, étnicos, políticos ou históricos, mas pegar numa situação já de si de extremos e querer defender qualquer um dos lados com mais extremismo e violência é regredir mais ainda na procura por uma solução de Paz.

Falhamos enquanto sociedade se vemos este tipo de “ativismo” como o melhor caminho para defender aquilo em que acreditamos. O extremismo não se combate com extremismo e a violência não se combate com violência; esta polarização combate-se com diálogo, respeito, cedências de parte a parte e empatia. Só assim a Paz deixará de ser uma miragem.