Desde a eleição presidencial realizada na Venezuela a 28 de julho, o país tem estado sob os holofotes mundiais. Os resultados eleitorais anunciados pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) ditaram Nicolás Maduro como vencedor com cerca de 51% dos votos, um resultado contestado pela oposição, que afirma que o candidato Edmundo González venceu as eleições por uma larga margem, com cerca de 70% dos votos, um número que dizem conseguir provar.

Desde a eleição, a comunidade internacional tem solicitado ao CNE que divulgue dados eleitorais verificáveis (provas irrefutáveis), sublinhando que é a única forma de garantir a legitimidade do vencedor. No entanto, poucos dias após as eleições, o CNE anunciou que seria incapaz de fornecer tais dados devido a um alegado ciberataque aos seus sistemas, sem apresentar quaisquer provas que sustentem essas alegações.

Portugal é uma das vinte e duas nações que pediram recentemente a “publicação das atas originais” e uma verificação “imparcial” e “independente” dos resultados eleitorais, numa altura em que os protestos continuam na Venezuela e um pouco por todo o mundo (cerca de 300 cidades), nomeadamente nos Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, Espanha, Portugal, entre outros.

Embora não se saiba ainda se os vários apelos internacionais levarão a negociações entre as partes implicadas, bem como à divulgação dos dados oficiais que possam encerrar a crise que eclodiu após as eleições, destaca-se um evento surpreendente que chamou a atenção de todos. Numa “jogada” considerada “brilhante” pelo The Guardian, milhares de voluntários da oposição que supervisionaram o processo eleitoral conseguiram reunir 83% das atas de voto, que foram disponibilizadas num website, onde fica evidenciado o resultado individual das mesas de voto, dando a vitória a Edmundo González com 67% dos votos e Nicolás Maduro com 30% – resultados já considerados fraudulentos pelo CNE.

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De qualquer forma, a operação que levou meses de preparação e que culminou com a publicação de evidência que sustenta a vitória de Edmundo González, provou-se bem-sucedida. E, talvez até tenha havido de facto um ciberataque aos sistemas do CNE, ou talvez essa justificação tenha sido a única saída encontrada perante a situação bastante inesperada a que o regime de Maduro ficou exposto, após a divulgação das atas de voto registadas pelos supervisores voluntários do partido da oposição, liderado por María Corina Machado. O facto é que a ideia de utilizar ferramentas digitais para monitorar os resultados eleitorais e depois torná-los acessíveis a todos, estabeleceu (literalmente) um novo padrão para futuras eleições.

Países como a Estónia, o Brasil, entre outros, que há muitos anos implementam tecnologias digitais em processos eleitorais, são a prova viva de que os sistemas eleitorais em todo o mundo têm muito a ganhar com a adoção e aplicação de práticas como o voto eletrónico e a governação eletrónica, que garantem um maior nível de confiança nos processos e aumentam a sua transparência, o que continua a ser o maior desafio para legitimar o vencedor na Venezuela.

O Observador associa-se aos Global ShapersLisbon, comunidade do Fórum Económico Mundial, para, semanalmente, discutir um tópico relevante da política nacional visto pelos olhos de um destes jovens líderes da sociedade portuguesa. Ao longo dos próximos meses, irão partilhar com os leitores a visão para o futuro nacional e global, com base na sua experiência pessoal e profissional. O artigo representa, portanto, a opinião pessoal do autor enquadrada nos valores da Comunidade dos Global Shapers, ainda que de forma não vinculativa