O regime chavista apoia-se, internamente, em estruturas militares e outras forças repressivas, obedientes e generosamente pagas, e num grupo político que resta do ineficiente e corrupto aparelho de estado. No exterior depende financeiramente da China, com uma dívida de montante considerável. Diplomaticamente é apoiado pela Rússia, e operacionalmente utiliza localmente cubanos como “homens de mão”. Recebe também o apoio de parceiros ideológicos vizinhos, tais como a Nicarágua e a Bolívia, de atores longínquos como o Irão e a Coreia do Norte e, ainda, de outros países de reduzida importância. Se a situação do regime se complicar poderá recorrer a forças mercenárias para restabelecer a ordem bolivariana.

Nesta região existem outros países ideologicamente de esquerda, que por terem maiores responsabilidades internacionais procuram, com uma prática política mais moderada, justificar a continuidade do atual regime Chavista estando recetivos a compromissos que evitem a mudança de campo estratégico da Venezuela e que leve ao enfraquecimento da solidariedade socialista na região. Estamos a falar do México, Chile, Colômbia e do influente Brasil. Perante a demora na entrega das atas eleitorais por pretextos caricatos, Lula da Silva até sugeriu recorrer à Comissão Eleitoral / Supremo Tribunal, organismos dominados pelos Chavistas e completamente desacreditados.

Entretanto a arrogância e a miopia política de Maduro e do seu grupo têm estado a exasperar os aliados ideológicos que ainda lhe restam.

A vitória da oposição é reconhecida pela Comunidade Europeia, por países da América e por todos os que noutros continentes defendem um processo eleitoral democrático, livre e isento. No entanto, temos países como a Espanha que, em 2022,  importou cerca de 12% do petróleo venezuelano apesar da visível deterioração do relacionamento diplomático, e Portugal que procura preservar a segurança da sua grande comunidade migratória.

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Devido ao atual período eleitoral, aos compromissos assumidos com Maduro após a invasão russa da Ucrânia, no sentido de encontrar um substituto para os fornecimentos russos de hidrocarbonetos e pelo aligeirar das sanções impostas ao regime para incentivá-lo a realizar eleições presidenciais honestas e credíveis, os Estados Unidos da América têm tido uma posição titubeante comprando à Venezuela 10% das suas exportações petrolíferas em 2022 e 19% no ano passado.

A China, que tem subsidiado generosamente o regime, não quer pôr em risco os seus investimentos financeiros, políticos e económicos e pretende ver no petróleo venezuelano uma grande reserva estratégica. Depois de recuperados os campos de extração e meios de distribuição existentes, a Venezuela poder-lhe-á assegurar a diversificação dos seus estratégicos aprovisionamentos energéticos. Em 2023 a Venezuela exportou para a China mais de 60% do seu petróleo.

A Rússia que assegura ao regime a frente diplomática também não quererá perder o controlo sobre este enorme “poço de petróleo”, assim conseguindo impedir ou dificultar os fornecimentos de produtos energéticos venezuelanos aos que rejeitam a violação da Carta das Nações Unidas quando da invasão da Ucrânia.

Quer a China, com a questão de Taiwan, quer a Federação Russa, pela aproximação da NATO às suas fronteiras, farão o possível por contrabalançar essas fragilidades promovendo enclaves desestabilizadores, frontalmente anti NATO e antiamericanos. Cuba que recebe 8% das exportações venezuelanas veria o fim das compras de hidrocarbonetos a baixo preço e com prazos de pagamento dilatados, ficando ainda mais dependente financeira e energeticamente dos seus parceiros chineses e russos.

Para infelicidade dos venezuelanos, o que está em causa não é apenas uma simples luta entre uma típica ditadura sul-americana e uma ainda incipiente Democracia forjada em eleições bastante controladas pelo Poder de Maduro. Trata-se de uma luta entre blocos geoestratégicos, cada vez mais extremados, opondo democracias liberais a ditaduras autocráticas. Enquanto as democracias liberais emitem declarações louváveis e palavrosas, os aliados da ditadura chavista fornecem-lhe um concertado apoio político, financeiro e repressivo, potenciando e silenciando a feroz repressão que se está a abater sobre todos os que se mostrem descontentes e solidários com a oposição.

Levantam-se algumas dúvidas sobre a solidez da oposição, mas foi ela que, atendendo às únicas atas eleitorais credíveis, ganhou inquestionavelmente as eleições e que está a ser ilegitimamente impedida de governar o país.

Com cidadãos também sujeitos a duras repressões, outras ditaduras como as de Cuba e Nicarágua dificilmente irão correr o risco de entrar num processo eleitoral semelhante, onde os eleitores possam exprimir livremente as suas escolhas políticas, sociais e económicas. Previsivelmente, esses regimes ainda se vão entrincheirar mais no poder e acentuar a repressão sobre a população. A simples implementação de mais sanções poderá estar votada ao fracasso e é de recear que a contínua repressão e o progressivo esquecimento internacional permitam ao regime ir normalizando, pouco a pouco, a ordem pública.

As ditaduras de esquerda ou de direita, religiosas ou ateias, civis ou militares, sabe-se sempre quando começam, mas nunca se sabe quando acabam.