António José Seguro não pretende tomar qualquer iniciativa para convocar um congresso extraordinário, na sequência do anúncio da disponibilidade de António Costa para disputar a liderança do PS.
“Quem quiser convocar um congresso extraordinário tem que reunir apoios para convocar democraticamente um congresso extraordinário. Este é um partido democrático com regras e não há nenhum congresso antes do final de 2015”, afirmou ao Observador fonte da direção socialista, acrescentando sobre Costa: “Não se entendem divisões quando devíamos estar todos unidos em torno da vitória” nas eleições europeias.
António José Seguro e António Costa, de qualquer forma, ainda deverão conversar nas próximas horas. Costa afirmou esta terça-feira de manhã que iria encontrar-se com o secretário-geral do PS quarta-feira. Para já, a vontade da direção é resistir a ser ela própria a pedir o congresso extraordinário, face à pressão interna. Segundo os estatutos do PS, a convocação de um congresso extraordinário só pode ser feita pelo secretário-geral, a comissão nacional ou a maioria das federações (que representem mais de metade dos membros inscritos no partido).
A contar apoios
Junto a António Costa, a notícia já colhe reação: “O líder quer fazer o quê? Vai ficar em casa fechado, a dizer ‘não marco, não marco’?”, questiona um dos mais influentes apoiantes do autarca. “Vai ser frito na opinião pública”, insiste a mesma fonte.
Pedro Nuno Santos, um dos líderes federativos que está com Costa, em declarações ao Observador atira direto: “É do interesse de todos e do secretário-geral em particular clarificar a situação interna neste momento. Isto deve ser resolvido pela via política e não pela estatutária”.
Assim sendo, ao desafio, os de Costa respondem com outro: “Vamos deixar os militantes todos escolher, em eleição direta, o secretário-geral do partido”, disse o presidente da Federação de Aveiro.
A Pedro Nuno junta-se Pedro Delgado Alves. O deputado diz ao Observador que a decisão de Seguro”não é um bom caminho” porque existe um debate já lançado “e é necessário que ele se faça e seja clarificador”. E responde diretamente à fonte oficial do Rato que disse que o partido tinha regras: “Pode ser o próprio secretário-geral a convocar o congresso extraordinário. Assim, se for ele a provocar o debate, também se respeitam as regras”, diz.
Também Manuel Alegre defendeu, em declarações à SIC-Notícias, que Seguro deve convocar um congresso. Ainda que sem declarar apoio a ninguém.
Os apoiantes de António Costa estão neste momento em contactos com militantes e dirigentes de federações distritais. Ao Observador, dois costistas disseram já ter a certeza de ter três federações de grande dimensão a apoiar António Costa: Lisboa, Açores e Aveiro. A “virar” estão as federações de Portalegre, Braga e Porto, garantem os mesmos apoiantes de Costa. A direção contra-ataca. Ao Observador, fonte próxima de Seguro diz que as federações de Porto e Braga estão com o líder e que as federações de Açores e Lisboa “estão partidas”. Já quanto à federação distrital de Pedro Nuno Santos, Aveiro, fonte próxima da direção diz que “só o presidente” (Pedro Nuno) está com António Costa. Certo é que a contagem das espingardas já começou com ambos os lados a ver que está com quem.
Quem já veio apoiar António José Seguro foi Francisco Assis. O cabeça-de-lista às eleições europeias e membro do secretariado-nacional do PS, disse em declarações aos jornalistas que “a questão da liderança não se deve colocar nestas circunstâncias”, mas que se António Costa mantiver a intenção, então Assis estará do lado do secretário-nacional. “Neste momento quero afirmar que apoiarei uma recandidadura de António José Seguro à liderança”. Assis, que não pertencia à mesma ala de Seguro, disse não querer criticar Costa e esperar pela conversa que Seguro terá com o presidente da Câmara de Lisboa, mas não deixou de dizer que “não é correto estarmos a abrir uma crise da liderança do PS”.