É uma tendência crescente: em menos de oito meses ultrapassámos a capacidade regenerativa do planeta Terra, ou seja, a capacidade de produzir o que precisamos e de absorver aquilo que produzimos — o nosso lixo. Há um ano foi no dia 20 de agosto, este ano um dia mais cedo. As contas são feitas pela Global Footprint Network (GFN) desde o ano 2000 — nesse ano calhou no primeiro dia do mês de outubro. Este grupo de reflexão faz os cálculos da seguinte forma: divide a capacidade biológica global pela pegada ecológica da humanidade e depois multiplica esse valor pelo número de dias do ano que faltam para chegar ao “orçamento” disponível, ou seja, ao ponto em que estamos a gastar mais que aquilo que temos.

Estas contas têm números grandes, mas o mais importante é a conclusão: a 19 de agosto esgotámos o plafond (o limite máximo disponível). Ainda faltam quatro meses e meio para o final do ano, por isso precisamos atualmente de uma Terra e meia para ter um ecossistema sustentável. Estima-se que este valor duplicou desde 1961 e pelos cálculos da GFN — contas “por baixo”, afirmam, baseadas na estimativa de crescimento da população e nas respetivas necessidades alimentares e energéticas — a meio deste século vamos precisar de “três Terras”. Neste quadro ficamos a conhecer os países mais consumistas.

De uma forma simples, a pegada ecológica define-se pela quantidade de dióxido de carbono que produzimos (através do consumo de combustíveis fósseis), mas inclui também parâmetros como a desflorestação e a perda de biodiversidade. O dióxido de carbono é o principal gás responsável pelo efeito de estufa e pelo aquecimento global e muitos cientistas estão alarmados com o degelo acelerado que se verifica nos pólos, em especial no circulo ártico — a tundra do Alasca, norte do Canadá e Sibéria. Se o permafrost descongelar (terra rica em biomassa que se encontra congelada) serão libertadas quantidades gigantescas de metano, um gás com efeito de estufa vinte vezes superior ao dióxido de carbono. Ninguém sabe quando se dará esse ponto de viragem, mas uma coisa é certa: as contas da Global Footprint Network irão ficar baralhadas e entraremos muito mais cedo na zona vermelha.

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