Carminho, voz do fado, aliou-se à Associação Nacional de Combate à Pobreza (ANCAP) e leiloou o disco de ouro “Fado” na plataforma de comércio solidário eSolidar. A 20 de setembro, um cidadão britânico pagou 350 euros para ficar com o galardão da artista portuguesa. Fã da cantora ou da causa? Não se sabe, mas a instituição de solidariedade social agradeceu o donativo.
A ANCAP apoia cerca de 80 famílias por mês com um cabaz de alimentos, distribui roupas, calçado e outros artigos de consumo e é uma das 50 associações que está inscrita na plataforma lançada por Marco Barbosa, Rui Ramos e Miguel Vieira, em maio de 2014.
Um mês antes do leilão de Carminho, outro, o disco de platina de Tony Carreira. E o donativo foi quase dez vezes mais generoso. Com a licitação do galardão, a ANCAP recebeu três mil euros em donativos. Não há certezas, mas pela informação apresentada no perfil da licitação, parece que o CD voou para uma emigrante portuguesa em França.
Para Angola, voou a bola de futebol com que o Sport Lisboa e Benfica defrontou o Olhanense, no último jogo da época passada, e no qual se consagrou campeão nacional. A licitação do adepto rendeu 2.800 euros à ONG O Mundo da Carolina, que apoia crianças com doenças crónicas ou que se encontrem em condição socioeconómica desfavorável. Em 129 dias de atividade, a eSolidar tinha angariado perto de 8.300 euros para 31 organizações.
O eSolidar é o projeto de empreendedorismo social que abriu o primeiro dia do evento Cidadania 2.0 e que é feito com tecnologia e ADN português. Os promotores não são novos no conceito e a plataforma de comércio eletrónico não é o produto estreia, mas é com esta ferramenta que querem criar soluções tecnológicas com impacto social.
“Queremos ser um canivete suíço para as organizações não-governamentais [ONG]”, explica Rui Ramos, 31 anos, responsável pelo departamento financeiro ao Observador. Na eSolidar, qualquer cidadão pode contribuir com donativos diretos para as causas em que acredita, participar em leilões que as ONG inscritas nas plataformas promovem com celebridades e utilizar a plataforma para compra e venda de produtos sem segunda mão, escolhendo uma percentagem que reverta para uma causa.
“Se nós promovemos a sustentabilidade, também temos de ser sustentáveis”, disse Rui Ramos, durante a apresentação do projeto. E explicou como: sempre que uma instituição vende um objeto, a eSolidar cobra uma taxa de 2,5%, na compra e venda de produtos em segunda mão recebe 5% e outros 5% dos leilões também revertem para a plataforma.
O objetivo dos fundadores, a quem se juntou Filipa Barros, também passa por criar um ecossistema solidário e por divulgar a ferramenta fora de Portugal. Até ao final do ano, pretendem duplicar o número de instituições inscritas na plataforma.
Rui Ramos, Marco Barbosa e Miguel Vieira conheceram-se na incubadora de startups minhota Instituto Empresarial do Minho (IEMinho). Foi lá que integraram o projeto de comércio eletrónico Bewarket, que, mais tarde, deu origem ao eSolidar, explicaram Rui Ramos e Filipa Barros, 30 anos, ao Observador. Depois de avançarem com a primeira ideia, perceberam que existia uma lacuna no mercado de comércio solidário e decidiram redirecionar o projeto. O foco está, agora, em exclusivo nas ONG.
Também “Adoeci”
Partilhar experiências. O projeto que Rita Vilaça, 25 anos, apresentou no primeiro dia do Cidadania 2.0 pretende unir pessoas que sofram com a mesma patologia. Doenças raras, crónicas, degenerativas ou psíquicas: há espaço para conversar sobre tudo na plataforma que a mestre em Bioinformática, e quase mestre em Informática Médica, lançou em fevereiro de 2014, a Adoeci.
A ideia surgiu durante o mestrado que tirou na Universidade do Minho e onde conheceu José Fernandes, da BloomIdea, empresa de consultoria que ajuda a lançar negócios online. Foi em conversa que detetaram que não existia nenhuma plataforma em Portugal que permitisse que pacientes com determinada patologia partilhassem experiências, terapêuticas e desabafos. Porque não criá-la?
José Fernandes alocou três colaboradores da empresa ao projeto: um informático, um designer e um gestor, que contribuíram com horas de trabalho para a concretização da Adoeci. Sete meses depois, mais de mil pessoas estão inscritas na comunidade digital para conversarem sobre as patologias de que sofrem. As que têm tido maior adesão são a Fibromialgia, Depressão e os distúrbios de Ansiedade. Porquê? Talvez por serem mais “incompreendidas” e “menos visíveis”, explica Rita Vilaça.
A plataforma, que funciona quase como uma rede social, permite que os pacientes criem um perfil, com registos médicos e terapêuticos, introduzam estados de espírito, criem uma rede de amigos, enviem mensagens privadas e conversem em grupo. E não é exclusiva para pacientes. Amigos e familiares que sintam necessidade de ter apoio e partilhar a experiência que estão a viver também podem registar-se.
O objetivo dos promotores é que estes dados contribuam mais tarde para a investigação científica de algumas patologias. Por enquanto, a equipa ainda está otimizar a plataforma e os planos passam por desenvolver uma versão para mobile ou uma app.
Política é no Twitter
Public Opinion and Sentiment Tracking, Analysis, and Research, ou seja, POPSTAR. O projeto ao qual pertence Pedro Magalhães, 44 anos, investigador no Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, desenvolve métodos de recolha, medição e agregação de opiniões políticas e económicas veiculadas no Twitter, na blogosfera e nas notícias, com financiamento da Fundação para a Ciência e Tecnologia.
“Recolhemos o buzz, a frequência com que se fala dos líderes e partidos políticos no Twitter e tentamos medir o sentimento [das pessoas face aos líderes]”, explica Pedro Magalhães ao Observador.
Além de recolher e analisar semanticamente os tweets, o POPSTAR também pretende confrontar os dados recolhidos com outros indicadores de opinião pública, como as sondagens. No primeiro protótipo do projeto, a equipa de investigadores do ICS, do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores – Investigação e Desenvolvimento da Universidade de Lisboa (INESC-ID), da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (FEUP) e do Núcleo de Investigação em Políticas Económicas da Universidade do Minho, analisaram o sentimento dos cidadãos face aos líderes políticos através de tweets, mas o objetivo é alargar o espetro de atuação.
“Vamos tentar desenvolver tecnologias que possam medir o contributo de textos específicos, como as notícias, e perceber como é que a informação que é vinculada pelos media e pelo Twitter se relaciona. Quem é que influencia quem?”, questiona o investigador.
O alvo da análise vai expandir-se, mas a temática também. Próximo passo: economia. Com a tecnologia desenvolvida na FEUP e no INESC-ID, os investigadores vão tentar medir, através de tweets, o que sentem os portugueses face à crise económica, ao desemprego ou às empresas. E para o futuro, o investigador deixa mais uma hipótese: “também gostaríamos de saber se existem diferenças na forma como os órgãos de comunicação social cobrem a vida política e os líderes dos partidos”, conta.
Na página do POPSTAR, há informação atualizada diariamente sobre o sentimento dos portugueses (baseados em tweets) face as líderes políticos. A 25 de setembro, quinta-feira, António José Seguro reunia 47,3% das menções negativas veiculadas pelos utilizadores do Twitter. Pedro Passos Coelho reunia 32,9%. Na sexta-feira, foi dia de debate quinzenal a propósito do caso Tecnoforma. Se houver mudanças de sentimento, o POPSTAR regista.