Augusto Santos Silva é sociólogo, professor catedrático e já ocupou vários cargos governativos, desde logo, como ministro da Educação e da Cultura, do Governo liderado por António Guterres, e ministro dos Assuntos Parlamentares e depois da Defesa de José Sócrates. Nesta entrevista a Maria João Avillez, o socialista analisou o caminho que o Partido Socialista (PS) de António Costa, caso vença as eleições em 2015, deve percorrer no seu diálogo com a Europa e com os restantes quadrantes políticos portugueses.

O socialista acredita que o “PS não deve desperdiçar aquela que é a sua vantagem no sistema partidário português” que reside no facto de ser “a única força capaz de olhar para a direita e para a esquerda”.

“O PS, tenha ou não maioria absoluta, tem de encetar imediatamente um diálogo com três grandes forças que hoje estão órfãs: a democracia cristã, que hoje não tem expressão politica (…), o setor cavaquista da social-democracia (…) e os setores à esquerda que se cansaram de ser esquerda para nada”, ou seja, o Partido Livre, parte do Bloco de Esquerda, o Manifesto 74, a Política 21, entre outros.

Todavia, Augusto Santos Silva só admite que essa aproximação à direita seja possível, quando, quer PSD, quer CDS, alterarem as suas lideranças, depositando em Bagão Félix (CDS) e em Rui Rio (PSD) a esperança de se tornarem parceiros nessa futura negociação.

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Mas como conciliar as diferentes forças políticas em jogo? Rompendo “com essa ideia muito portuguesa que quando o PS ganha, está condenando a governar sozinho” e contando com aqueles que estejam “empenhados na mudança da politica económica e da politica social em Portugal na baliza da nossa pretensão europeia”, ou seja, sem rasgar com o Tratado Orçamental. No seu entendimento, essa deverá ser a missão de António Costa, “o único capaz de protagonizar essa mudança”.

Aliás, segundo o professor catedrático o diálogo com os parceiros políticos deve ser antecedido por um diálogo sério com os parceiros sociais.

“Acho que o acordo que nós precisamos do ponto de vista de política de rendimento, políticas de apoios sociais, política fiscal, é um acordo que deve envolver forças políticas, mas que deve vir do diálogo social para o diálogo político”. A preocupação em fortalecer a ponte com os parceiros sociais (sindicatos e representantes do patronato) e com a sociedade civil, em geral, será uma das prioridades deste PS.

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Falando sobre a posição portuguesa na União Europeia (UE), relativamente à questão da dívida pública soberana, Augusto Santos Silva criticou a atitude de “passividade” e de uma certa “subserviência” do Governo de Passos Coelho na sua relação com os credores europeus e não europeus.

“É preciso deixar de entender o Governo português como um procônsul das autoridades europeias em Portugal, como o foi no seu máximo esplendor [com] Vítor Gaspar, e passar a compreender que a posição do Governo português é defender os interesses de Portugal enquanto Estado-membro da UE. Para isso é preciso um Governo mais forte e um governo que abandone a posição de ‘nós somos seguidores, nós somos alunos, nós somos executores de regras definidas por outrem'”.

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O que não significa, como fez questão de sublinhar o socialista, “uma posição unilateral portuguesa, uma solução no sentido de reestruturação unilateral da dívida (à Argentina) ou saída do Euro”, como defende a extrema-esquerda portuguesa. O caminho passará sempre pela formação de “um bloco, com países como a Itália e a França, que influencie a UE no sentido da mudança da política orçamental e da política comum”.

Para Augusto Santos Silva, só uma demonstração de força conjunta, em parceria com os restantes parceiros europeus tornará bem-sucedida a intervenção portuguesa, no sentido de resolver os problemas económicos e orçamentais do país e de encontrar soluções para a Europa.

E que soluções propõe o ‘novo’ PS de Costa? “Há várias possíveis”. No entanto, o sociólogo não acredita que o melhor caminho seja comprometer-se, numa fase tão inicial, com alguma em concreto.

“Temos de evitar hollandices, ou seja comprometermo-nos antecipadamente com aquilo que achamos que seria uma bala de prata, uma medida que por si só resolveria tudo (…) e depois de termos entradas de leão, sairmos como sendeiros”.

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Augusto Santos Silva pronunciou-se, também, sobre a questão que envolve a eventual antecipação das eleições legislativas. O socialista reconhece que, não havendo o acordo do Executivo PSD/CDS, Cavaco Silva – que considera “estar nas mãos do primeiro-ministro” – não pode “dissolver a Assembleia e demitir o Governo” apenas tomando como critério a preparação atempada do Orçamento do Estado para 2016. No entanto, deixou o aviso: “Acho que vamos chegar a outubro de 2015, em piores condições do ponto de vista das contas públicas, do que estávamos em 2011”.

Sobre as eleições presidenciais de 2016, o ex-ministro considera que António Guterres “é a solução óbvia”, como candidato apoiado pelo PS.

Apesar de admitir não saber a verdadeira intenção do ex-primeiro-ministro e atual Comissário da ONU para os Refugiados, Augusto Santos Silva “julga” que o ex-primeiro-ministro “se vai candidatar [a Presidente da República]”, porque, apesar de ser “muito cedo” para anunciar a sua candidatura, “para dizer que não era candidato, já é muito tarde”.

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A entrevista na íntegra pode ser vista aqui.