O rosto do TV Rural faleceu esta quinta-feira aos 88 anos. José Sousa Veloso era engenheiro agrónomo, apresentador, produtor e realizador do programa de televisão da RTP que durante 31 anos chegou a casa dos portugueses. Distinguido com o Prémio Imprensa, em 1963, Sousa Veloso entrava nos ecrãs ao domingo para falar sobre campos de trigo, centeio, vacas, ovelhas ou frutas. No final, “despedia-se com amizade até ao próximo programa”.
Foi o programa com maior longevidade da televisão portuguesa, por onde também passaram nomes como o de Fialho Gouveia e Henrique Mendes. Durante 31 anos, o engenheiro agrónomo apresentou o TV Rural durante 25 minutos, um programa que nasceu na cabeça do ministro da Agricultura Quartin Graça e que começou a ser transmitido a 6 de dezembro de 1960.
“Queria chegar a toda a gente e desejava que as actividades agrárias e o meio rural fossem compreendidos e amados pelo meio urbano, que estava a ter cada vez mais supremacia”, disse Sousa Veloso ao Público. A transmissão do TV Rural terminou a 15 de setembro de 1990, depois de 1500 horas de emissão. No último episódio, Sousa Veloso despediu-se com um “até sempre”.
“Tentei ter em conta a diversidade de públicos que assistiam ao programa e falar para as pessoas todas: as do escritório, da fábrica, da enxada e da charrua. Quis entrar em casa de qualquer pessoa e ter aceitação”, disse, na mesma entrevista.
O regresso do programa que nasceu ainda no Estado Novo foi discutido no Parlamento, no início de 2013, e a aprovação de um programa televisivo sobre Agricultura e Mar chegou em fevereiro desse ano. O projeto recomendava ao Governo que promovesse a realização e emissão em canal aberto de serviço público de um programa televisivo que incidisse nesses temas.
O TV Rural foi dos primeiros programas de televisão a utilizar som ambiente nas reportagens. No último episódio, Sousa Veloso leu um poema do poeta guineense Amílcar Cabral, em homenagem ao Instituto Superior de Agronomia.
O Adeus à tapada
Adeus, Tapada:
Na hora triste deste despedida
Erguem-se os braços da «malta» camarada
E em gestos saudosos, a alma dolorida,
Dizem-te «adeus» …
Tu foste, amiga, o ambiente delicioso
Onde brotou a flor dos nossos sonhos…
E à sombra doce do teu jardim frondoso
Conosco sentiste
As horas mais tristes
E as horas alegres dos dias risonhos.
Adeus Tapada:
Partimos p’ra vida
Levando p’ra luta as armas que deste
As armas forjadas no teu Instituto.
Queremos na lida,
Queremos provar que nada perdeste
– que valeu a pena
Nós sermos teu fruto
Adeus Tapada:
Do ambiente discreto do teu miradouro
Contempla a partida destes filhos teus…
…e ouve, angustiada, a voz grito, o coro
Da «malta engenheira» que te diz «adeus» …
E sofre connosco a saudade perversa,
Sofre em segredo:
– Que as folhas caídas do teu arvoredo
São lágrimas vivas que o vento dispersa!
Na última vez que apareceu na televisão portuguesa, Sousa Veloso disse que aquele seria, provavelmente, o seu último programa. “Senhores espetadores, despeço-me com amizade. Até uma próxima oportunidade, se Deus quiser.”