Depois da noite de domingo, a Europa vai ter que contar com uma nova proposta política, eleita num Governo da zona euro. Aqui deixamos-lhe uma síntese, primeiro das linhas gerais do programa – e mais abaixo do seu programa económico, desenhado em cinco pilares.
Começamos pelo que diz respeito à Europa:
- Reestruturar grande parte da dívida pública, de forma a que se torne sustentável, no contexto de uma “Conferência sobre a Dívida Europeia”.
- Incluir uma “cláusula de crescimento” para o pagamento da parte remanescente da dívida grega, para garantir que será financiada com crescimento e “não com o orçamento”.
- Incluir uma moratória para o serviço da dívida, para poupar fundos para estimular o crescimento.
- Excluir os investimentos públicos das restrições do Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE (as novas regras interpretativas só o permitem para países que respeitem défice de 3% do PIB).
- Um “New Deal” de investimento público europeu financiado pelo Banco Europeu de Investimento (o plano Juncker já está no papel, mas o seu financiamento ainda não está acertado).
- Exigência de compra direta de dívida europeia pelo BCE, o chamado “Quantitative Easing” (O BCE anunciou esta semana um plano neste sentido, mas deixou condicionada a aplicação à Grécia – não só porque tem coberto o limite colocado para o país – até junho -, mas também condicionando-o à existência de um programa de assistência. O atual na Grécia ainda não terminou e é quase certo que o país precisará de um outro, pelo menos de um cautelar).
E aqui, uma ideia global do que se propõe a fazer dentro de fronteiras:
- Aumentar o investimento público “imediatamente” em, pelo menos, 4 mil milhões de euros.
- “Gradualmente”, reverter “todas as injustiças do memorando de entendimento”.
- “Gradualmente, recuperar os salários e pensões, para aumentar o consumo e a procura”.
- Dar incentivos ao emprego às pequenas e médias empresas, dando subsídios ao custo da energia na indústria – em troca da criação de emprego e de uma cláusula ambiental.
- Investir em conhecimento, investigação e nova tecnologia, com o objetivo de levar de volta para a Grécia os jovens investigadores que emigraram.
O plano económico do Syriza tem como base cinco pilares, que aqui resumimos também.
Primeiro pilar: combater a crise humanitária.
Custo: 1,9 mil milhões de euros
- Eletricidade grátis para 300 mil famílias a viver abaixo do limiar de pobreza;
- Subsídios à alimentação para famílias sem rendimentos, em coordenação com as autoridades locais, a Igreja e organizações de solidariedade;
- Programa de garantia de habitação, pagando parte da renda de pequenas casas a 30 mil famílias;
- Assistência de saúde e farmacêutica livre para desempregados sem subsídio;
- Cartão especial para transportes públicos, entregue a desempregados de longa duração;
- Revisão dos impostos dos combustíveis e para aquecimento em casa.
Segundo pilar: relançar a economia e promover a justiça fiscal
Custo: 6,5 mil milhões de euros; Receita esperada: 3 mil milhões
- Parar os processos e arresto de contas bancárias a quem não tenha rendimentos, que ficarão suspensos por 12 meses;
- Abolição do imposto único sobre propriedade;
- Introdução de uma taxa sobre as grandes propriedades e casas de luxo;
- Aumentar o número de escalões de IRS, para assegurar maior progressividade;
- Reestruturação de empréstimos para empresas e indivíduos – para os que estiverem abaixo do limiar de pobreza e para as dívidas (ao Estado, Segurança Social e banca) que baixem os rendimentos abaixo dos 33%. O mecanismo de revisão contará o apoio de uma organização pública, que vai garantir os pagamentos em falta;
- Recolocar o salário mínimo nos 751 euros;
Terceiro pilar: recuperar 300 mil empregos
Custo: 3 mil milhões de euros
- Recuperar os direitos perdidos com o Memorando (legislação laboral);
- Recuperar acordos coletivos;
- Abolição de layoffs “massivos e injustificados”;
Quarto pilar: transformar o sistema político
Custo: zero.
- Regionalização do Estado;
- Maior autonomia aos municípios e regiões;
- Iniciativa legislativa aos cidadãos – também para convocar referendos;
- Restabelecimento da televisão pública;
Quinto pilar: encontrar receitas
- Recuperação de pagamentos em atraso ao Estado;
- Combate à evasão fiscal;
- Usar os 11 mil milhões destinados à banca no Memorando para servir de “almofada social”;
- Aproveitar os fundos europeus do último quadro ainda não aproveitados, mas também do próximo quadro comunitário;
- Transferir propriedades públicas para fundos de pensões – para poder gradualmente aumentar as pensões cortadas nos últimos anos. As privatizações acabam.
Se quiser uma visão mais detalhada do programa do Syriza, pode consultar aqui uma resenha autorizada – em inglês.