Há um ano, a Goldenergy era o operador estrela no mercado liberalizado do gás. A empresa criada pela distribuidora Dourogás conseguiu conquistar, em pouco tempo, 27% dos clientes que tinham saído da tarifa, ultrapassando a Galp Energia em número de contratações no mercado. Este crescimento foi sobretudo alcançado em 2013 e muito à boleia de uma parceria com a DECO que assegurava um desconto aos associados da associação de defesa do consumidor.

Um ano depois, a empresa Goldenergy é alvo de um número anormalmente elevado de reclamações junto da DECO, 564 no ano passado e cerca de 320 até 20 de fevereiro de 2014, segundo dados avançados ao Observador por Carolina Gouveia, jurista da associação. Ou seja, quase 900 queixas em poucos meses, um número muito acima do verificado em outras comercializadoras, e que se centram na angariação agressiva de novos clientes.

Regulador já sancionou operadora por práticas comerciais agressivas

O regulador de energia já sancionou a Goldenergy por infrações no relacionamento comercial com os clientes, designadamente por práticas comerciais agressivas, e está a analisar novas reclamações contra a empresa de comercialização de gás e eletricidade. Numa resposta ao Observador, a ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos) esclarece que a Goldenergy é a entidade no setor elétrico com maior percentagem relativa de reclamações, 1,4,2 por 10 mil clientes, seguida da YCLE e da Galp. O maior número de queixas em termos absolutos é contra a EDP Comercial que é a maior fornecedora de eletricidade, tendo por isso mais clientes.

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A ERSE analisou mais de 40 casos, tendo procedido à abertura de processos de contraordenação e, inclusive, proferido decisões condenatórias contra vários agentes. Quando há indícios de incumprimento da lei ou de regulamentação cuja fiscalização é da competência de outras entidades, como a Direção-Geral do Consumidor ou o Ministério Público, a ERSE remete o respetivo processo para análise dessas entidades.

A DECO confirma que manteve uma parceria com a Goldenergy durante três anos que terminou de forma definitiva a partir de novembro do ano passado. Carolina Gouveia adianta que foi sobretudo a partir daquela data que disparou o número de reclamações para valores considerados anormais no setor. No entanto, desde 2013 que havia denúncias de outros operadores, nomeadamente da Galp Energia que apresentou queixas na ERSE e Direção-Geral do Consumidor, devido a casos de técnicos que se identificavam como sendo da petrolífera e pediam apenas para verificar os contadores.

A Antena 1 relatou esta quarta-feira diversos casos de reclamações contra os operadores que atuam em nome da Goldenergy. Entre os testemunhos recolhidos estão a ausência de identificação dos agentes no terreno, a obtenção de assinaturas em contratos de fornecimento de gás e eletricidade sem explicar aos titulares que é esse o propósito e a utilização do nome da DECO para persuadir os consumidores a contratarem este fornecedor. As queixas resultam todas de contactos feitos em casa dos consumidores.

Fonte oficial da empresa citada pela rádio admite que a Goldenergy já investigou casos relacionados com técnicas de venda agressivas por parte de operadores que estarão a atuar em seu nome. “As empresas que trabalham para nós ganham normalmente por cada contrato que adquirem, mas os que trabalham para nós têm formação e são bem preparados”, aponta José Augusto Macedo, do gabinete de comunicação da Goldenergy.

A DECO emitiu um alerta no início deste mês, esclarecendo que “não tem parcerias com a empresa Goldenergy nem com outro fornecedor de gás natural ou eletricidade. Por ser uma falsidade ou até uma eventual burla, rejeite qualquer contacto desta natureza”, apelando à comunicação imediata de casos. Esta situação terá entretanto diminuído, adiantou Carolina Gouveia. A jurista sublinha que mesmo assinando um contrato que vincule o fornecimento de gás e eletricidade por um ano, os consumidores têm 14 dias para refletir e eventualmente anular a contratação.

Parceria com DECO terminou em 2014, mas Goldenergy venceu leilão do gás

A parceria entre a DECO e a Goldenergy terminou de forma definitiva no ano passado, quando a associação optou por realizar um leilão de ofertas de gás e duais (eletricidade e gás), à semelhança do que tinha feito na eletricidade em 2013. Este leilão realizado em julho de 2014 foi ganho pela Goldenergy na modalidade gás – a Galp ganhou a oferta dual. Segundo informação avançada pela DECO ao Observador dos 26 mil consumidores que manifestaram interesse em participar, cerca de um terço (32%) confirmou a mudança de contrato para o operador que venceu por apresentar o preço mais competitivo, a Goldenergy. A contratação do novo fornecedor decorreu online e sem registo de problemas.

A empresa que nasceu de uma pequena distribuidora com sede em Vila Ral, a Dourogás, cresceu depressa no mercado do gás natural, tendo alcançado quase 200 mil clientes em setembro do ano passado. Dois anos antes a empresa tinha poucos milhares de contratos. Em 2014, a Goldenergy lançou-se também no mercado elétrico onde tem 1,2% do número de consumidores do segmento liberalizado o que corresponde a mais de 50 mil contratos de baixa tensão. As quotas de mercado da Goldenergy são muito mais pequenas em quantidades vendidas, dada uma menor penetração no segmento industrial.