Três riscos e um triângulo a fazer de telhado. Falar de casas com crianças pode ser tão simples como um desenho para pendurar na porta do frigorífico. Mas o que sabem elas sobre o assunto? No que depender de Didier Cornille, a partir de agora muito: com o livro Mãos à Obra: Cada Casa a Seu Dono, os miúdos vão poder dizer quem são Frank Lloyd Wright, Frank Gehry, Le Corbusier e Mies van der Rohe tão depressa como rabiscam uma árvore e uma janela.

É um guia de arquitetura moderna, mas adaptado aos leitores mais pequenos e contado a partir de 11 casas selecionadas um pouco por todo o mundo. “Escolhi-as por serem todas diferentes e terem uma personalidade original”, conta Didier Cornille ao Observador. Formado em Design e por trás do departamento de Arquitetura de Interiores da Escola de Belas-Artes de Tourcoing, o francês quis provar como a arquitetura é fascinante e nada complicada. Para isso, não foram precisos grandes planos em 3D ou maquetes em esferovite. Apenas demonstrar, com os exemplos encontrados, que “a arquitectura é uma aventura. Uma história entre pessoas e entre pessoas e um sítio.”

No livro que acaba de ser lançado pela Orfeu Negro — uma editora que sempre se dedicou às artes plásticas e performativas, e que aqui conseguiu fundir esse interesse com a ótima coleção de livros para crianças, Orfeu Mini –, vamos de 1924 a 2002, da “casa onde tudo é móvel”, construída por Gerrit Rietvield na Holanda, à casa de palha que Sarah Wigglesworth e Jeremy Till fizeram para trabalhar e viver no norte de Londres. “No início, a casa ecológica era para ser na Austrália mas tendo em conta o clima australiano, preferi escolher uma casa em Londres, rodeada por uma paisagem urbana”, diz Cornille.

A capa do livro

A capa do livro.

Para a edição portuguesa de Mãos à Obra, que vai ser apresentada este domingo (8 de março), às 16h00, numa oficina de entrada livre para mini-arquitetos, no espaço Mapa, nas Amoreiras, foi acrescentado um capítulo dedicado a Siza Vieira. “Tal como Wright nos Estados Unidos, Siza parece-me ser o arquiteto mais completo em Portugal”, diz Didier Cornille. Do português, vencedor do Prémio Pritzker em 1992, mostram-se vários edifícios, da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto ao Centro Galego de Arte Contemporânea em Santiago de Compostela, passando pelo Pavilhão de Portugal, em Lisboa, ou a Casa Beires, na Póvoa de Varzim, “onde parece que caiu uma bomba”.

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Muitos exemplos têm comparações ou pormenores que vão agradar aos mais novos, da casa de Frank Gehry que foi sendo acrescentada à medida que o arquiteto precisava de mais espaço e até tem cubos que parecem ter caído do céu, à casa projetada por Rem Koolhas em Bordéus, “onde um elevador é a divisão principal”.

Para além de um retrato ilustrado e de uma pequena biografia sobre cada arquiteto, todos os capítulos são coloridos com os desenhos do próprio Didier Cornille, ilustrações em miniatura feitas a caneta de feltro que fazem lembrar os esboços dos arquitetos. “As minhas ilustrações são muitas vezes minimais porque estou habituado a desenhar de memória ou muito rapidamente”, diz o autor. “O seu minimalismo obriga-me a ser mais exacto e, dessa forma, a comunicar melhor cada uma das características das casas.”

Porque há muito mais no universo da arquitetura do que três traços para as paredes e um triângulo a fazer de telhado.