O economista belga Paul de Grauwe defende que os países devem “impulsionar o investimento”, sobretudo o investimento público e acredita que mesmo países como Portugal devem aumentar o investimento estatal, que é mais benéfico do que as reformas estruturais.
Paul de Grauwe esteve em Portugal na semana passada para participar no II Fórum do Banco Central Europeu (BCE), que decorreu em Sintra, e em entrevista à Lusa disse que o BCE “fez a coisa certa no geral” ao avançar com as medidas não convencionais de política monetária, o chamado ‘quantitative easing’, mas alerta que isso pode “não ser suficiente”. “O que deve acontecer agora é impulsionar o investimento, especialmente o investimento público, porque é nessa parte que estão os maiores multiplicadores e também é isso que vai aumentar a procura no futuro e, portanto, aumentar o produto potencial”, disse.
De Grauwe sublinhou que, durante a crise, os governos reduziram o investimento público e defendeu que “este é o momento” para inverter esta redução, uma vez que “as taxas de juro estão historicamente baixas”. Para o economista, o investimento público “é muito mais importante do que as reformas estruturais”.
“Nem sabemos quão importantes são essas coisas [as reformas estruturais], mas sabemos que o investimento publico é um ponto chave”, reiterou, acrescentando que esta é uma política que devia ser prioridade para países como a Alemanha e países do norte da Europa, mas que também devia ser seguida em países como Portugal. “O investimento público em Portugal caiu dramaticamente, vocês podem fazê-lo. Devemos fugir desta onda que diz que o investimento público não pode ser financiado, que os empréstimos devem ser financiados pelas receitas correntes”, defendeu.
O professor da London School of Economics diz “ser a favor” de apostar no investimento público que aumenta a produtividade e financiar esse investimento nos mercados, destacando que “não há nada de errado nisso”, dando o exemplo das empresas. “Agora estamos todos a seguir esta regra estúpida em que temos de equilibrar o orçamento no ciclo económico, o que implica que não podemos pedir emprestado para fazer investimento público. Mas vamos supor que impúnhamos isso às empresas privadas (…). Se fizéssemos isso ainda estávamos na idade do gelo”, ilustrou. Apesar de perceber “a pressão política” que existem em alguns países para prosseguirem com os cortes na despesa do Estado, Paul de Grauwe considera que “isso é contra a lógica económica”.
Quanto a Portugal, que tem ainda o défice orçamental acima dos 3% do Produto Interno Bruto (PIB) e uma dívida pública superior a 130%, de Grauwe diz que, “se o investimento for bem selecionado, se for rentável, não há problema nenhum porque gera receitas”. “É claro que se [Portugal] emitir dívida para financiar o consumo, isso é um problema e, sim, Portugal, fez isso no passado. Mas, se é para investimento produtivo, não há absolutamente problema nenhum nisso. Se o retorno dos ativos [em que se investe] é maior do que os custos de financiamento, por que não fazê-lo. É o que fazem as empresas. São tolas?”, pergunta o economista.
Ainda em relação a Portugal, o economista considera que “está melhor” do que há um ano, mas alerta para o desemprego “que ainda está elevado” e para a dívida “que continua a pesar” e diz que “é por isso que a Europa tem de começar a fazer coisas que promovam o crescimento económico”.
Questionado sobre as críticas da Comissão Europeia e do Fundo Monetário a Portugal, que continuam a pedir que esforços reformistas se mantenham, Paul de Grauwe responde: “O que quer dizer ‘esforços reformistas’? Não encontrei evidência de que as reformas do tipo que estas pessoas falam, como a proteção ao emprego ou salários mínimos, impulsionem o crescimento.”.
Para de Grauwe, o que a Comissão e o FMI “deviam estar a pedir era investimento”, porque “isso é muito mais importante do que as reformas”, até porque os países do Sul da Europa “já fizeram muitas reformas e, normalmente, muito dolorosas para as pessoas”
Paul de Grauwe deixou mesmo um aviso a Bruxelas e a Washington: “Se a Comissão, o FMI e o BCE continuarem a dizer ‘vocês tem de continuar a fazer estas coisas que magoam as pessoas, sobretudo as pessoas pobres’, então vão ter um problema de legitimidade e as pessoas vão dizer ‘não queremos estas pessoas aqui’, por isso, temos de ter cuidado e pensar quanto mais queremos levar as pessoas à miséria”.