“A entrada do PROTAL não nos fez ganhar ou perder seja o que for”, disse Diogo Gaspar Ferreira, CEO da Vale do Lobo, em entrevista publicada este sábado pelo semanário Expresso. “Quando comprámos Vale do Lobo, e fui eu que preparei esse processo, já todos os projetos imobiliários estavam aprovados”, respondeu, sublinhando a sua tese de que este empreendimento de luxo no Algarve não foi beneficiado na altura da sua construção por uma medida aprovada em Conselho de Ministros em 2007, na altura do segundo mandato do governo de José Sócrates.

Sobre Hélder Bataglia, o luso-angolano que é presidente da ESCOM, uma empresa que fazia parte do Grupo Espírito Santo, e que também é um dos donos da Vale do Lobo, Diogo Gaspar Ferreira adiantou pouco. Mas guardou distância deste seu sócio: “Eu não vou incriminar Hélder Bataglia na praça pública, mas ele é que vai ter de encontrar uma justificação para este caso”. O CEO da Vale do Lobo disse ainda que, desde que a sua empresa foi alvo de buscas pelo MP, ainda não entrou em contacto com Bataglia. “Não tenho de lhe ligar a perguntar rigorosamente nada sobre isto.”

Transferências milionárias para conta na Suíça

Em causa está uma linha de investigação que o Ministério Público (MP) terá seguido quando interrogou o ex-primeiro-ministro no dia 27 de maio. De acordo com o Diário de Notícias de segunda-feira, o MP confrontou José Sócrates com uma resolução aprovada em Conselho de Ministros a 24 de maio de 2007 que alterava o Plano Regional de Ordenamento do Território para o Algarve (PROTAL), ligando a isto transferências de dinheiro feitas por Hélder Bataglia em 2008 e 2009 para uma conta na Suíça.

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Segundo o DN, José Sócrates terá sido confrontado com os prazos em que esta revisão do PROTAL aconteceu. Apesar de ter sido aprovada a 24 de maio de 2007, o documento referente a esta decisão só foi publicado em Diário da República a 3 de agosto e só entrou em vigor no dia 19 de dezembro daquele ano. Este intervalo de tempo poderá ter beneficiado a Vale do Lobo.

As transferências em causa surgem sob dois nomes. O primeiro é o de Hélder Bataglia, que terá transferido 12 milhões de euro para uma conta suíça no nome de Joaquim Barroca (administrador do Grupo Lena que atualmente está em prisão domiciliária também no âmbito da Operação Marquês). O segundo nome é o do milionário holandês Jeroen van Dooren, que terá transferido um total de dois milhões de euros para a mesma conta entre janeiro e abril de 2008 e que comprou um terreno em Vale do Lobo.

As suspeitas apontam para que o dinheiro transferido para a conta bancária na Suíça de Joaquim Barraco foi, mais tarde, passado para a esfera de Carlos Santos Silva, antigo administrador do grupo Lena e alegado testa de ferro de José Sócrates.