A Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia considera que “podemos ser otimistas o suficiente para dizer que a hepatite C é uma doença que pode estar erradicada dentro de alguns anos”, por ocasião do Dia Mundial da Luta Contra as Hepatites Víricas assinalado esta terça-feira.

José Cotter, presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG) admitiu que os pacientes dispõem de tratamentos “com elevadíssima taxa de eficácia, muito próxima dos 95%”, mas revelou preocupação face a “uma pequena franja de doentes [que] não responde a estes tratamentos”.

“[Esses pacientes] necessitarão de medicamentos alternativos que neste momento ainda não estão aprovados do ponto de vista negocial pela tutela”, informou o também diretor do serviço de Gastrenterologia do Centro Hospitalar do Alto Ave, afirmando que, no entanto, esta é “uma doença que pode estar erradicada dentro de alguns anos” face ao avanço da investigação médica nesta área.

O especialista alertou, ainda, para o caráter “silencioso” desta doença, que deve ser combatido através de “uma simples análise sanguínea”, “pelo menos uma vez, na idade adulta”.

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“Se a infeção evoluir de modo silencioso, o que vai acontecer é que, quando houver sinais, já vai estar numa fase muito avançada” e trazer complicações como a cirrose ou o cancro do fígado, que pressupõem “tratamentos muito complicados”, nos quais, na maioria dos casos, o transplante é “o único recurso”.

A hepatite C associa-se mesmo a 25 a 30% dos casos de cancro do fígado a nível mundial e é hoje a principal indicação para transplante do fígado nos Estados Unidos da América e na Europa, referiu a SPG em comunicado, sublinhando a importância do rastreio para todos os casos de doença hepática.

No que toca aos casos de hepatite B, o presidente da SPG afirmou que se verifica um decréscimo a partir do momento em que a vacina entrou no Programa Nacional de Vacinação, não descurando a realidade de que “ainda existe uma parte substancial de cidadãos infetados”.

“Dispomos de tratamentos eficazes, no sentido de não deixar avançar a infeção, nem deteriorar o fígado”, referiu o especialista, admitindo que, “numa elevada percentagem de casos”, não são a cura, mas sim um modo de controlar a doença e impedir que esta avance.

Em Portugal, a infeção pelo vírus da hepatite B pode atingir, segundo a SPG, 40.000 a 100.000 cidadãos, e estar presente em 15 a 20% dos doentes com cirrose hepática, “estádio final das doenças do fígado cujo único tratamento curativo será o transplante”.

As hepatites víricas, “segunda causa mais frequente de cirrose em Portugal, atrás da cirrose de etiologia alcoólica”, são, na ótica da SPG, “um problema de saúde pública mundial” que deve ser combatido através da “informação e sensibilização geral das populações, dos médicos de família, e de uma coordenada e eficaz resposta dos médicos especialistas em gastrenterologia e hepatologia […], contando com um imprescindível empenhamento das instâncias estatais e governamentais”.

Na senda do apelo de rastreio feito pela SPG, a SOS Hepatites vai estar esta terça-feira, na Praia de Santo Amaro de Oeiras, em Lisboa, entre as 10h00 e as 17h00, a oferecer rastreios à hepatite C a toda a população, como forma de assinalar o Dia Mundial das Hepatites.

Com o slogan “Faça o Rastreio. Salve o seu fígado”, esta associação pretender também alertar para a necessidade de avaliar a situação do fígado, especialmente o dos portugueses nascidos entre 1950 e 1980.