Uma equipa internacional, que conta com a participação de um investigador português, conseguiu determinar as medidas do planeta rochoso mais próximo da Terra – o HD219134 b. Este planeta orbita uma estrela visível a olho nu a partir da Terra. “É quase um planeta no nosso quintal”, diz ao Observador Pedro Figueira, investigador do Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço.
“HD219134 b é, sem dúvida, o mais interessante de todos os planetas extrassolares”, acrescenta o investigador da Universidade do Porto. O facto de orbitar uma estrela tão próxima, localizada na constelação Cassiopeia, e que é tão brilhante, permitiu a esta equipa de investigadores verificar que este planeta é pouco maior do que a Terra e que tem uma composição semelhante.
Num futuro próximo, os investigadores esperam obter mais informações sobre esta estrela, o planeta HD219134 b e os outros três planetas “do sistema planetário mais próximo da Terra onde se sabe existir um planeta rochoso”, refere Pedro Figueira. “Este exoplaneta será um dos mais estudados”, diz em comunicado de imprensa Ati Motalebi, investigadora no Observatório de Genebra e primeira autora do estudo que será publicado durante o mês de agosto na revista Astronomy & Astrophysics.
HD219134 é uma das estrelas mais próximas do Sol, a 6,5 parsec de distância (qualquer coisa como 200 biliões de quilómetros), e é muito brilhante. Isto permite “analisá-la melhor, sem ruído”, explica Pedro Figueira. A luz que chega da estrela é extremamente importante para as conclusões a que os cientistas agora chegaram, porque são as variações no brilho que ajudam a identificar quantos planetas podem orbitar a estrela, quais as massas destes e, em casos particulares, qual o diâmetro dos planetas.
Dois astros que se aproximem no espaço atraem-se mutuamente devido à força da gravidade que cada um exerce sobre o outro. O mesmo acontece quando os planetas viajam à volta da estrela. A estrela atrai os planetas, e os planetas fazem a estrela oscilar na sua posição descrevendo uma órbita muito pequena, mas cujas oscilações são suficientes para perceber que massas têm os planetas daquele sistema.
Cada um dos membros desta equipa internacional operou o HARPS-N, um espetrógrafo de alta resolução, instalado no Telescopio Nazionale Galileo, em La Palma (Canárias), incluindo o investigador. Além disso, Pedro Figueira ajudou a desenhar alguns dos programas que analisam a enorme quantidade de dados recolhidos. O resultado foi a descoberta de três superterras (com 4,5, 2,7 e 8,7 vezes a massa da Terra, respetivamente) e um planeta gigante (com 62 vezes a massa da Terra).
Se as oscilações na luz da estrela causada pelos efeitos da gravidade permitem calcular a massa dos planetas pelo Método das Velocidades Radiais, a variação da luz causada pela passagem de um planeta “à frente da estrela” (entre a estrela e o observador na Terra) permite calcular o diâmetro pelo Método dos Trânsitos, usando telescópio espacial Spitzer da agência espacial norte-americana (NASA). Foi assim que os investigadores perceberam que o planeta em trânsito HD219134 b tinha um diâmetro 1,6 vezes superior ao da Terra.
HD219134 b tem uma órbita curta, de 3,1 dias, aumentando a probabilidade de ser apanhado em trânsito (a passar “em frente à estrela”), refere Pedro Figueira. E como passa muitas vezes em pouco tempo, também aumenta o número de observações, tornando os resultados mais apurados. Sabendo a massa e o raio, os investigadores conseguem calcular a densidade e HD219134 b tem “uma densidade semelhante à da Terra”, logo a probabilidade de ser rochoso é grande. “Os planetas que têm uma massa muito grande não podem ser totalmente rochosos. Têm de ter uma parte gasosa, porque não haveria rocha suficiente”, conclui o investigador.