Cientistas da Universidade de Madison, EUA, dizem ter descoberto na África do Sul um novo “primo” da árvore genealógica humana que está a deixar os investigadores perplexos, não só porque há um grande mistério em torno da origem e idade das ossadas mas porque estas foram encontradas num monte de ossos que terão pertencido a, pelo menos, 15 indivíduos. Os fósseis estavam no fundo de um túnel escuro, de muito difícil acesso por ter largura inferior a 20 centímetros. “É um mistério digno de Sherlock Holmes”, diz um investigador citado pela Associated Press.

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Árvore genealógica da espécie humana. Créditos: S. V. Medaris/ UW – Madison

Onde foi encontrado?

O “primo” já foi batizado: é o Homo naledi. Os cientistas descrevem o momento em que entraram na câmara como sendo inesquecível e contam como foi rastejar até ao local onde o ancestral humano estava enterrado num vídeo avançado pela Universidade de Madison.

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A descoberta deu-se no sistema de cavernas Rising Star, a cerca de 50 quilómetros de Joanesburgo.

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Localização da caverna onde Homo naledi foi encontrado. Créditos: S. V. Medaris/ UW – Madison

Trata-se de um sistema de cavernas onde, segundo a AP, já foram encontradas ossadas de mais de 1.500 espécimenes em cerca de dois anos. Mas poucas terão deixado os cientistas tão perplexos como estas, que exibem características que os investigadores consideram “estranhas” e “bizarras“.

Quem é Homo naledi?

Esta espécie, que se deslocava ereta, tinha mãos e pés que se assemelham ao grupo dos Homo, mas os ombros e o crânio parecem-se mais com os antepassados do Homo, mais semelhantes aos macacos, segundo os investigadores citados. Lee Berger, que liderou os trabalhos que levaram a esta descoberta, disse à AP que as ossadas deverão ter origem perto do início do grupo Homo. A confirmar-se, isso significaria que os fósseis terão entre 2,5 milhões e 2,8 milhões de anos.

Num vídeo, avançado pela Universidade de Madison, diz-se que o Homo naledi está muito próximo de nós. Ainda assim, tinham “cérebros maiores, dentes mais pequenos, usavam ferramentas de pedra e comportavam-se de forma claramente culturais”. Já a partir desta altura, o Homem era capaz de aprender comportamentos através da socialização.

Mas uma análise aos ossos mostra que estes podem ser mais recentes, o que significará que este Homo naledi manteve algumas características fisiológicas mais tempo do que se previa. Ou, em alternativa, houve um regresso a algumas características anteriores e estas ossadas mostram esse possível retrocesso evolucional.

O que significa esta descoberta?

A importância desta descoberta é comparável com a de Lucy (um fóssil de Australopitecus afarensis com 40% do corpo completo e que marca a passagem dos primatas para o Homem como o conhecemos), mas há um aspeto que torna a investigação Homo naledi mais singular: é que desta vez não foi encontrado um corpo, mas sim um grupo de esqueletos. Para os cientistas, isto pode significar que aqueles seres foram “deliberadamente deixados” naquele local. Também este facto realça a teoria de que o comportamento adquirido já existia na época em que este “primo” do homem viveu.

“É um mistério digno de Sherlock Holmes”, acrescentou um outro investigador, que não esteve envolvido no estudo. Bernard Wood, de uma universidade de Washington DC, acredita que tendo em conta o local recôndito e escuro onde foram encontradas as ossadas, e as características geológicas do local, quem colocou ali os ossos – eventualmente os próprios espécimes cujas ossadas foram encontradas – teve de recorrer a luz artificial, o que revela uma capacidade mental mais sofisticada do que se admitia.