Terminaram os “dérbis” da política portuguesa. António Costa e Pedro Passos Coelho já se defrontaram na televisão, primeiro, e na rádio, esta quinta-feira de manhã. O país mergulha agora na discussão de quem foi o vencedor. Ouvem-se e lêem-se comparações entre os dois debates. Compara-se a agressividade, o conteúdo, o ataque, a defesa, a segurança e a atitude. Qual é o debate que vai ter mais influência nos resultados das eleições de 4 de outubro? O da rádio ou o da televisão?
O dia 26 de setembro de 1960 pode ter algumas semelhanças com os dias que hoje vivemos. É que também houve debate entre dois candidatos, na rádio e na televisão. E com dois vencedores diferentes. Diferença: o debate foi único, transmitido em simultâneo nos dois meios. E decidiu mesmo as eleições.
Falamos no primeiro debate alguma vez televisionado na história. Aconteceu nos Estados Unidos, entre o jovem senador John F. Kennedy e a velha raposa da política americana Richard Nixon. E o confronto marcou o início de uma nova forma de fazer política. A partir desse dia o cuidado com a imagem pública, o poder da exposição mediática e o estilo passaram a ser essenciais para uma vida política bem sucedida.
O confronto foi transmitido na rádio e na televisão simultaneamente. Mas, no final, pareciam dois debates diferentes. O jovem Kennedy, que tinha grande cuidado com a sua imagem, grande sensibilidade para o comportamento em televisão e percebendo o poder da imagem pública e do estilo, apresentou-se com um belo e arranjado fato, calmo e confiante. A boa aparência de Kennedy aos olhos das mulheres também ajudou. Por outro lado, Nixon relegava a importância do estilo para segundo plano. Não percebia o poder que a imagem começava a ter. Apareceu pálido e magro, depois de um internamento hospitalar, suava abundantemente e mostrava uma expressão nervosa, sem inspirar confiança.
Nixon tinha sido, até essa altura, um dos vice-presidentes mais influentes da história dos EUA, e subestimou o jovem senador que se encontrava à sua frente, considerando-o inexperiente, ingénuo e imaturo. A verdade é que o conteúdo das suas palavras chegaram para convencer quem ouviu a transmissão através da radio. Mas o problema é que em 1960, 88% dos americanos tinha uma televisão em casa e estima-se que 74 milhões de pessoas viram a transmissão televisiva do debate. E, pelas imagens, todas as sondagens davam uma clara vitória a Kennedy. E Kennedy venceu mesmo as eleições. Muitos afirmam, ainda hoje, que, se o debate tivesse sido transmitido apenas na rádio, o vencedor teria sido outro.
Aqui fica um excerto deste debate histórico e que mudou a política: