A cerimónia foi curta, à porta fechada e numa sala com um simbolismo especial para António Costa. O acordo assinado à esquerda arrisca-se a ser um dos momentos históricos da democracia portuguesa, mas não durou mais do que 20 minutos. E, afinal por que razão António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia não se sentaram? Existem oito curiosidades que ajudam a contar o filme do nascimento desta aliança.

1 – Uma aliança no Tejo

A sala que serviu para a celebração dos três acordos que ajudaram a colar a aliança de esquerda não podia ter um nome mais simbólico: nada mais, nada menos, do que “Sala Tejo”.

Localizado no edifício novo da Assembleia da República, o espaço foi escolhido pelo Partido Socialista e herdou o nome do rio que atravessa a cidade de Lisboa. Precisamente, a mesma cidade onde o socialista foi obrigado a fazer alianças à esquerda e começou a consolidar a imagem de “construtor de pontes”.

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2 – A razão pela qual Jerónimo foi o primeiro

Havia a expetativa de saber quem assinava primeiro o acordo com o PS. Uma das soluções possíveis era que fosse o partido com um maior grupo parlamentar dos três (o BE) a assinar primeiro. 

A solução foi, pois, diplomática: assinava primeiro quem primeiro tivesse ratificado o acordo junto dos órgãos de decisão dos partidos. E aqui há um detalhe curioso: apesar de os bloquistas terem sido, como é conhecido publicamente, os primeiros a anunciar o fecho do acordo com os socialistas, foram os últimos a aprová-lo junto dos militantes. O PCP aprovou o documento no comité central dia 9, mas o BE só teve passo idêntico segunda-feira à noite, esperando assim pelos comunistas. 

ssinatura de posição conjunta entre Partido Socialista e Partido Comunista Portugues; com Antonio Costa secretario geral do Partido Socialista; Jeronimo de Sousa secretario geral do Partido Comunista Portugues; Carlos Cesar; Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socilaista e João Oliveira; presidente do Grupo Parlamentar do Partido Comunista Portugues

assinatura de posição conjunta entre o Partido Socialista e o Partido Ecologistas os Verdes; com Antonio Costa Secretario Geral do Partido Socilaista; Heloisa Apolonia; membro da Comissão Executiva do Partido Ecologistas os Verdes; Carlos Cesar Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socilaista e Manuela Cunha; membro da Comissão Executiva do PEV

assinatura de posição conjunta entre o Partido Socialista e o Bloco de Esquerda, com Antonio Costa Secretario Geral do Partido Socilaista, Catarina Martins , Porta-voz do Bloco de Esquerda Carlos Cesar Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socilaista e Jorge Costa, membro da Comissão Politica e vice Presidente do Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda, e Pedro Nuno Santos, vice Presidente do Grupo Parlamentar do Partido Socialista

Créditos: Jorge Ferreira/PS

 

3 – Fotógrafo oficial é socialista

As fotos do acordo foram registadas pelo fotógrafo oficial do PS. Minutos depois seguiram por email para o PCP, BE e PEV e também para a Lusa.

4 – A foto só existe para o PS e PEV

Momentos depois de os acordos terem sido assinados, o PS colocou no seu site oficial as três fotos dos três acordos históricos. PCP e BE, por seu lado, nem sequer usaram essas fotos. Se for aos sites destes dois partidos, verá ainda outras diferenças. O BE colocou o texto com o teor do acordo assinado na terça-feira, dia 11. O PCP não. Tem os comunicados do Comité Central e da Comissão Política sobre a posição do partido e o que levou a negociar com o PS, mas o documento assinado não está disponível. E a foto também não.

5 – Três assinaturas. 20 minutos

O momento foi histórico mas foi rápido. Em cerca de 20 minutos, estava tudo feito. Os partidos de esquerda nunca quiseram reunir ao mesmo tempo com o PS e, por isso, também não há uma única foto com os dirigentes dos quatro partidos todos juntos, mas isso também não significa que tenham estado em salas isoladas. No entra e sai da sala Tejo do PS, os negociadores cruzaram-se e houve sorrisos.

6 – Por que razão não se sentaram?

Mal as fotos foram divulgadas, os comentários nos corredores da Assembleia surgiram de imediato. E mesmo vindos dos grupos parlamentares que foram protagonistas da assinatura de acordos. Houve pouca pompa e circunstância, na verdade. Os líderes partidários nem se sentaram para assinar os papéis de uma forma mais confortável, nem mesmo as cadeiras foram afastadas para facilitar o ato. A própria sala, despida, vai ficar para a história. As prateleiras vazias de livros, o cabide ainda com etiqueta e a porta preparada para saída de emergência serão um bom prenúncio?

7 – Acordo assinado à porta fechada

Os corredores do Parlamento eram uma confusão de câmaras, jornalistas e assessores. As primeiras atrapalhavam os segundos, os segundos atrapalhavam os terceiros e os terceiros fugiam de ambos. Todos queriam saber quando iam ser assinados os acordos à esquerda, mas António Costa, Catarina Martins, Jerónimo de Sousa e Heloísa Apolónia preferiram celebrar a aliança longe dos olhares indiscretos dos media – daí, a escolha da Sala Tejo, no edifício novo da Assembleia da República. Depois de assinado o acordo, terça-feira à hora de almoço, então aí sim, um a um, os vários partidos foram fazendo chegar aos jornalistas a informação de que o documento estava fechado. 

8 – As testemunhas

Não foram só os líderes dos partidos que marcaram presença nas cerimónias. Catarina Martins fez-se acompanhar por Jorge Costa e Mariana Mortágua, bloquistas que se sentaram à mesa das negociações com o PS. Jerónimo de Sousa seguiu o mesmo critério e escolheu João Oliveira, líder parlamentar do PCP. Heloísa Apolónia escolheu Manuela Cunha, dirigente nacional de Os Verdes e uma das responsáveis pelas negociações com os socialistas. Ao lado de António Costa estiveram Carlos César, líder parlamentar do PS e presidente do partido, e Pedro Nuno Santos, deputado e um dos homens fortes de Costa nas negociações.

9 – A cor da caneta de Costa

António Costa escolheu uma caneta vermelha para fechar os acordos. Eram algumas as linhas vermelhas no documento, as negociações foram duras e, para muitos chegou, a acender-se a luz vermelha. E, bem, os partidos à esquerda do PS são, por natureza, vermelhos. Um detalhe que é isso mesmo: apenas um detalhe.