Não é a esquerda da direita de Marcelo, mas “a direita da esquerda” de Rui Rio. Em entrevista à RTP, o ex-presidente da Câmara do Porto reconheceu que “gostaria de ver o PSD flectir um bocadinho mais à esquerda ou mais para o centro”, depois de quatro anos em que, entre algumas opções ideológicas, não houve grande espaço de manobra para colocar em prática uma verdadeira linha social-democrata. Quanto à continuidade de Passos, poucas dúvidas: é, nesta altura, quase um “formalismo que tem de ser cumprido”, diz Rio.
O antigo autarca, que durante algum tempo foi visto como possível alternativa a Passos na liderança do partido, garante que ainda não sabe se vai ao congresso social-democrata, onde alguns dos opositores internos já prometeram dizer o que pensam sobre o atual momento do partido. Ora, Rui Rio descarta essa hipótese: “Se for [ao congresso] não é para dar nenhum recado a ninguém e se não for também não. Essa é uma não-questão”.
Ainda assim, o portuense não deixou de fazer algumas observações sobre o caminho que o partido deve tomar e deixou uma sugestão: a “separação óbvia” em relação ao CDS “pode ajudar a clarificar essas águas” e devolver, de vez, o partido ao centro.
Em relação à posição do partido no Parlamento, Rui Rio defende que o “PSD não pode dizer não a tudo” e deve ter uma “oposição construtiva” em São Bento, deixando no ar uma aparente crítica à decisão de Passos de não participar na discussão sobre o Orçamento do Estado para 2016. Ainda assim, diz o ex-autarca, os sociais-democratas deviam “votar contra” o diploma.
A hipótese “Rui Rio como líder do PSD” chegou a entusiasmar muitos dos seus apoiantes a norte e alguns barões do partido. No entanto, o vai não vai da corrida presidencial acabou por tirar alguma força à alternativa. Com Passos recandidato – “e parece que a maioria do partido respeita [essa decisão]”-, deverá ser ele a conduzir os destinos do partido.
Rui Rio elogia linha do Orçamento, mas levanta dúvidas
Quanto a António Costa algumas palavras para deixar um reconhecimento e um aviso: é certo que o ex-presidente da Câmara de Lisboa é “um negociador nato”, mas “se a esquerda não ganha juízo e começa a pedir o impossível” as “coisas correm mal”.
Para já, um elogio, ainda que com algumas reservas, ao Orçamento de António Costa: Rui Rio diz que estará “de acordo com a linha que o Orçamento do Estado quer seguir, mas não com a intensidade com que isso é feito”.
E é na “dose muito elevada” aplicada na devolução de rendimentos que estão as dúvidas do social-democrata. “Concordo com todas as medidas – devolução dos salários da função pública, redução do Iva, eliminação da sobretaxa, melhores prestações sociais. As pessoas merecem, o problema é correr riscos demasiado grandes”, sublinhou.
A este ritmo, o destino, teme Rui Rio, pode ser a “parede”. “Receio o bater contra a parede e o disparar endividamento público. Era mais simples e seguro se todas estas devoluções, justas, se fizessem mais lentamente”.