Antes de começar a ler este artigo, talvez deva optar por escolher a banda sonora. Se tiver à mão o quarto álbum da banda britânica Radiohead – “Kid A” – escolha a primeira faixa e carregue no play:“Everything in its right place”. Quando Thom Yorke, Jonny Greenwood, Colin Greenwood, Phil Selway e Ed O’Brien gravaram este disco, em 2000, João Neves teria cerca de sete anos. Dezasseis anos depois, conta que esta poderia ser a música eleita para o acompanhar esta quinta-feira: o dia em que venceu o Startup Lisboa Momentum e teve acesso a uma bolsa que vai permitir desenvolver a Sensi Guitar, em Lisboa, durante um ano. Sem custos.

João Neves tem 23 anos, é natural de Rio Maior e licenciou-se em Música, na variante de Música Eletrónica e Produção Musical, no Instituto Politécnico de Castelo Branco. Ouviu falar na bolsa que a Startup Lisboa queria atribuir aos projetos dos estudantes do Ensino Superior com mais dificuldades económicas enquanto estava a ver o programa televisivo “5 para a meia-noite”. Concorreu. Ele e mais 40 pessoas. Mas só João vai ter a oportunidade de residir durante um ano na Casa Startup Lisboa e de desenvolver o projeto que criou na incubadora, gratuitamente, durante um ano. A isto junta-se uma bolsa mensal de 500 euros.

Irmão caçula, é o mais novo de quatro, mas nem por isso está assustado com a capital. Aos jornalistas presentes no evento, conta que “sempre teve o sonho de construir uma guitarra”. O que é afinal a Sensi Guitar? É uma espécie de comando (numa guitarra) que aciona unidades de sons exteriores à própria guitarra, através de módulos predefinidos num software. E o músico só tem de carregar no botão.

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É como se tivéssemos o comando da televisão embutido na nossa mão e pudéssemos andar por todo o lado e mudar de canal, sem termos de estar parados num sítio. Neste caso, o software está no computador e, na guitarra, tens acessos aos controlos como botões. E podes emparelhar cada controlo da guitarra com um dos elementos do software”, explica João Neves.

A ideia não é nova, porque o sonho – o de construir uma guitarra sua – já existia, pelo menos, desde 2009. Aproveitou que tinha de entregar um trabalho final de curso na licenciatura para convencer o cunhado a trabalhar as madeiras. Esta quinta-feira, João apresentou-se na Startup Lisboa com uma guitarra desenhada e trabalhada pelo cunhado e com os controlos que desenvolveu embutidos.

O software pode estar ligado a vários instrumentos ou ao microfone e continuar a ser controlado na guitarra, enquanto o músico toca. A ideia é fazer com que o artista consiga introduzir elementos ao espetáculo sem necessitar de um técnico de som ou de se deslocar. Faz tudo enquanto toca. Apesar de ainda não estar desenvolvido, João conta que o software permite interagir também com vídeos e com luzes. E não tem de ser utilizado exclusivamente numa guitarra. Pode, por exemplo, substituir um técnico de som numa peça de teatro ou noutro tipo de espetáculo e é acionado por um dos atores em palco.

“Há a necessidade de ter aqui parâmetros standard, mas a ideia é que esses standard sejam sempre muito abertos e que sejam fáceis de serem personalizados. Em vez de ser otimizado para um guitarrista, pode ser para uma banda inteira que não tem dinheiro para pagar a um técnico de som e quer utilizar o software para fazer o processamento e controlo dos volumes”, conta.

A tecnologia associada ao software da Sensi Guitar foi desenvolvida por João Neves, que na apresentação do projeto afirmou que “a programação é a melhor ferramenta para todas as áreas”. O objetivo é que este comando também possa ser utilizado por pessoas com dificuldades motoras.

O Startup Lisboa Momentum é uma bolsa destinada a apoiar alunos que foram abrangidos por bolsas da ação social em instituições do Ensino Superior e que queiram lançar um negócio próprio.