Um grupo de cerca de 50 personalidades, encabeçado pelo empresário Alexandre Patrício Gouveia, está a preparar um manifesto para defender Portugal do domínio espanhol da banca. A notícia foi avançada ontem pelo comentador político Luís Marques Mendes, que começou por criticar o “risco de espanholização” da banca portuguesa, avançando depois que o tema já estava a ser alvo de um manifesto para esse efeito.
“Os bancos portugueses poderiam ser dominados por espanhóis. Mas este é um tema que está a ser tão discutido, que pelo que sei está a ser preparado um manifesto de várias personalidades, uma das pessoas que está a liderar é Alexandre Patrício Gouveia”, disse o ex-líder do PSD no seu habitual comentário na SIC. “Vamos ver se se concretiza, não vejo mal desde que não caia na tentação do populismo, na demagogia e na hipocrisia”, acrescentou o comentador quando questionado sobre a utilidade prática de manifestos deste cariz.
De acordo com a edição desta segunda-feira do Diário de Notícias, na origem da iniciativa está um grupo de pelo menos 50 personalidades, entre empresários, banqueiros e economistas. O promotor do documento é o empresário Alexandre Patrício Gouveia, administrador do grupo El Corte Inglês, que há dez anos também foi um dos promotores de um outro manifesto intitulado “Compromisso Portugal”, que pretendia defender a manutenção dos centros de decisão em Portugal.
Já num artigo de opinião publicado no Observador em fevereiro, intitulado “O controle da banca em Portugal”, Patrício Gouveia defendia que Portugal não tinha de “aceitar todas as opiniões das autoridades europeias”, afirmando que “qualquer outro país do euro lutaria de forma firme para impedir que 80% do seu setor bancário pertencesse a um único país estrangeiro”.
Também João Salgueiro, ex-banqueiro e antigo presidente da Associação Portuguesa de Bancos e da Caixa Geral de Depósitos, está associado ao projeto, de acordo com informação recolhida pelo Observador. João Salgueiro faz também parte do Conselho Económico Social que, em parecer ao Orçamento do Estado de 2016, alertou também para o risco do domínio estrangeiro na banca.
De acordo com Marques Mendes trata-se de um manifesto “sobre a banca e a eventual ‘espanholização'”, sendo que passa também por uma “estratégia de concertação de posições entre o Presidente da República, o Governo e o Banco de Portugal”. “Há algum equilíbrio e acho que é positivo”, disse, referindo-se ao facto de Marcelo Rebelo de Sousa, na primeira viagem oficial que fez enquanto Presidente da República, foi a Espanha passar a mensagem de que “os espanhóis são bem-vindos mas que a banca não deve estar em exclusivo seja de que país for”, neste caso Espanha.
O tema do eventual controlo espanhol da banca portuguesa tem agitado as águas nos últimos dias, tendo provado reações da direita à esquerda. Depois de Marcelo ter tocado na ferida em Madrid, a manchete da edição deste sábado do semanário Expresso dava conta de que António Costa e a empresária angolana Isabel dos Santos se tinham reunido em Lisboa para ultrapassar o impasse no BPI e conciliar posições com o grupo financeiro espanhol La Caixa. O acordo terá terminado com a filha do Presidente angolano a vender a sua participação no BPI aos espanhóis e o BPI a ceder as suas ações do banco angolano BFA à Unitel, operadora onde Isabel dos Santos é a uma das maiores acionistas.
No mesmo encontro, e segundo o Expresso, o primeiro-ministro terá dado luz verde a uma futura entrada de Isabel dos Santos no capital do BCP. A empresária angolana terá manifestado interesse em manter investimentos na banca portuguesa, o que poderá passar pela entrada no capital do maior banco privado português onde já está a Sonangol. O BCP mais angolano poderia ser uma salvaguarda com o falado interesse do espanhol Sababell, que também é acionista do banco liderado por Nuno Amado.
Depressa o PSD, primeiro pela voz de Leitão Amaro, e, depois, de Pedro Passos Coelho, criticou a “interferência” do primeiro-ministro no negócio. António Costa, questionado pela SIC nos Açores, não respondeu ao repto do líder do PSD. Também CDS optou por manter-se em silêncio sobre o tema – mesmo depois de o ex-líder, Paulo Portas, ter alertado para o mesmo risco -, e o mesmo fez o Bloco de Esquerda. Já o PCP aproveitou o momento para voltar a defender o controlo público da banca.