O poeta Manuel Alegre recebeu esta segunda-feira o prémio Vida Literária, entregue pelo Presidente da República, a quem elogiou o discurso feito na Assembleia da República. “Há qualquer coisa no ar, há qualquer coisa que está a renascer. Um certo espírito de abril começou a renascer hoje”, disse Alegre, referindo-se à intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa no Parlamento: “Um discurso abrilista e pedagógico. Que se dirigiu não só aos que já sabem mas também aos que cá não estavam”, afirmou.
A cerimónia, que decorreu no salão nobre da sede da Caixa Geral de Depósitos, em Lisboa, viria a terminar com uma confissão: Manuel Alegre não votou em Marcelo, claro, mas “da próxima vez, se continuar assim”, então assume que pode votar. Alegre esteve ao lado da socialista Maria de Belém na candidatura presidencial, tendo sido um dos maiores derrotados na noite eleitoral.
“Sempre tivemos boas relações pessoais e de amizade, não votei nele, como é natural. Da próxima vez já não sei, se isto continuar assim, se calhar voto. Os portugueses precisavam de afeto, de confiança e de esperança. Além dos cortes das pensões, e de tudo o resto, as pessoas tinham perdido a esperança, e ele está a restituir isso às pessoas. E isso é muito importante”, disse aos jornalistas.
Durante a cerimónia, Alegre apelidou o presidente de “cultor da língua e dos livros”, alguém que “saberá dar a dimensão cívica e cultural que os portugueses precisam”. Portugueses, aliás, que “precisam de mais sonho” porque “esta também é uma pátria de poetas”. Ao mesmo tempo, reforçou que as conquistas de 1974 devem ser mantidas pela Constituição, que “continua a ser a garantia dos direitos de abril”.
Em jeito de memória, Manuel Alegre, que se estreou nos livros em 1965 com “Praça da Canção”, agradeceu aos “professores de Águeda”, que o ensinaram “ainda antes do acordo ortográfico”. “Sou o que sou graças ao povo e aos poetas”, confessou. “Agradeço a quem difundiu os poemas, que falavam do país de abril antes de abril, do país de maio antes de maio.” E nomeou “Eduardo Lourenço, Ramos Rosa, Eduardo Prado Coelho, Mário Sacramento, entre outros”. Apesar das distinções alegre recordou: “Ganhei prémios mas nem tudo foram rosas, alguns preconceitos não desapareceram”.
Manuel Alegre deixou ainda um “apelo ao Presidente, ao primeiro-ministro e aos deputados, que a disciplina de História volte a ser uma prioridade no ensino”. Continuou:
Tenho cada vez mais a sensação de que já não sabemos quem somos. A participação na Europa não significa a diminuição de Portugal. Não podemos esquecer a nossa dimensão transportuguesa, como dizia Natália Correia”
Na cerimónia, que teve lugar na sede da Associação Portuguesa de Escritores, esteve também o ministro da Cultura, Luís Filipe Castro Mendes. A propósito, Manuel Alegre confirmou que “na política portuguesa quando sai um poeta entra outro”.
O prémio Vida Literária tem o valor de 22.500 euros e é uma consagração de carreira da Sociedade Portuguesa de Autores.