A economia portuguesa voltou a abrandar e cresceu apenas 0,1% no primeiro trimestre deste ano, face ao último trimestre do ano anterior, um crescimento de 0,8% face ao primeiro trimestre do ano passado, resultado de uma queda nas exportações portuguesas, avançou hoje o INE. Maiores economias do euro estão a crescer mais

Já se sabia que a economia tinha abrandado na segunda metade do ano passado, com crescimento trimestrais residuais – 0,1% no terceiro trimestre e 0,2% no quarto trimestre, em cadeia. Agora, segundo a primeira estimativa do INE para o primeiro trimestre do ano, a economia voltou a crescer mais lentamente, apenas 0,1% face ao último trimestre do ano.

O crescimento em termos homólogos (comparação com o mesmo trimestre do ano passado), também mostra um crescimento abaixo do que é estimativa para o ano. O PIB terá crescido apenas 0,8%, um ritmo longe dos 1,8% que o Governo espera que aconteça no conjunto do ano, e até das previsões mais pessimistas do FMI e da Comissão Europeia, 1,4% e 1,5%, respetivamente.

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Dados do PIB no primeiro trimestre. Fonte: Estimativa Rápida. INE.

O resultado confirma as expetativas dos mais pessimistas. A média do grupo de economistas contactados pela Agência Lusa publicada esta quinta-feira apontava para que a economia crescesse 0,3% face ao último trimestre do ano passado, e 1,1% face ao mesmo trimestre do ano passado. No final, acertaram mesmo os mais pessimistas deste grupo, o Núcleo de Conjuntura da Economia Portuguesa (NECEP) da Universidade Católica, esperava um crescimento económico de 0,1% em cadeia e de 0,8% em termos homólogos, o mesmo resultado dado a conhecer hoje pelo INE.

O que justifica este abrandamento

Segundo o INE, numa explicação ainda curta, já que se trata de uma primeira estimativa, o abrandamento face ao terceiro trimestre deve-se ao contributo negativo da procura externa líquida. As dificuldades nos principais mercados para as exportações portuguesas levou a uma redução das exportações portuguesas e isso terá provocado o abrandamento da economia, já que a procura interna contribuiu para um aumento do PIB, num contexto de recuperação dos rendimentos dos portugueses.

O efeito da redução da procura externa líquida foi ainda mais penalizador do que o verificado na parte final do ano – mais uma vez, refletindo a desaceleração das exportações -, mas também há um abrandamento significativo do investimento.

” A procura externa líquida registou um contributo mais negativo para a variação homóloga do PIB que no trimestre anterior, refletindo a desaceleração das Exportações de Bens e Serviços. A procura interna manteve um contributo positivo, próximo do verificado no trimestre anterior, observando-se um crescimento mais intenso do consumo privado, enquanto o investimento desacelerou significativamente, refletindo a redução da Formação Bruta de Capital Fixo”, diz o INE.

A economia portuguesa cresceu 1,5% no ano passado e o Governo espera que esse crescimento seja mais robusto este ano, 1,8% do PIB. Foi o segundo ano consecutivo de crescimento, depois de o PIB ter aumentado 0,9% em 2014.

O INE publicará nova estimativa para a evolução da economia no primeiro trimestre do ano no próximo dia 31 de maio.

Maiores economias da zona euro estão a acelerar

Não foi só em Portugal que foram conhecidos números sobre a evolução da economia. Na Alemanha, a economia acelerou 0,7% no primeiro trimestre face ao final do ano passado, um aumento robusto face aos 0,3% que tinha crescido na parte final do ano passado (1,3% em termos homólogos). Segundo o Instituto de Estatística da Alemanha, este crescimento deve-se a um maior crescimento da procura interna, num contexto de fragilidade no comércio externo que afeta também a maior economia da zona euro.

Na Holanda também se verificou uma aceleração do crescimento no primeiro trimestre, de 0,3% para 0,5%, mas no caso italiano, apesar de haver uma aceleração do crescimento, de 0,2% para 0,3%, apesar de estar ainda a um ritmo baixo.

Ainda assim, estes resultados – a que se juntam os números melhores que o esperado para a economia francesa conhecidos no final de abril -, a mostram uma tendência de aceleração da economia da zona euro, com quatro das cinco maiores economias da zona euro a crescerem mais que na parte final do ano.

Crescimento acelera na zona euro

A economia também cresceu mais rapidamente na zona euro e na União Europeia, acelerando para os 0,5% no primeiro trimestre (tanto na zona euro como no conjunto da UE) deste ano face ao final de 2015, depois de ter crescido 0,3% e 0,4%, respetivamente. Em termos homólogos, a economia da zona euro terá crescido 1,5% e da União Europeia 1,7%.

Portugal fica muito abaixo da média tanto da zona euro, como da União Europeia, independentemente do período de referência com o qual se compara, mas, em comparação com o último trimestre do ano passado, há quatro países em contração (Grécia, Letónia, Hungria e Polónia) e um país cuja economia estagnou (Estónia). Em comparação com o primeiro trimestre de 2015, só há dois países na União Europeia que crescem menos que Portugal: a Hungria (que não faz parte da zona euro) só cresceu 0,5%; e a Grécia, cuja economia caiu 1,3%. Há oito países que não apresentaram ainda dados para o primeiro trimestre

O Eurostat confirma, no entanto, algumas boas notícias para Portugal, de que as maiores economias da zona euro estão a acelerar o seu crescimento. Entre elas estão naturalmente a Alemanha, como referido acima, e a Espanha, que manteve um crescimento robusto no primeiro trimestre, ambas importantes parceiros comerciais da economia portuguesa na zona euro.

Governo confiante em reviravolta

Em reação a estes números, o ministro da Economia diz que o Governo já tem dados que dão confiança ao Governo que a economia pode estar a dar a volta. Segundo Manuel Caldeira Cabral, a forte procura que diz existir por fundos comunitários para investimento e os dados relativos à criação de emprego dão esperança ao Governo que a economia pode estar a reagir ao abrandamento que vem desde agosto.

“Temos alguns dados que são mais positivos de criação de emprego, redução do desemprego face ao ano passado, dados de uma forte procura de fundos comunitários para investimento que demonstram que há alguns aspetos da economia portuguesa que já estão a responder, e que há perspetivas de poder haver uma alteração deste abrandamento da economia que vem desde agosto do ano passado e que temos de alterar”, afirmou o responsável, à margem de uma conferência em que participava em Lisboa.

O ministro das Finanças também já comentou os números. Em Vila Real de Santo António, Mário Centeno mostrou-se confiante que a economia vai continuar a acelerar ao longo do ano, admitindo ainda assim que os números do primeiro trimestre desapontaram: ” é de facto um inicio de ano que não fez a diferença em relação ao final do ano passado que todos esperavam”, disse.

O governante diz que este abrandamento se deve à evolução negativa em alguns mercados muito importantes para as exportações portuguesas, mas defende que internamente a economia se está a evoluir positivamente e que não irá alterar a política do Governo e que não coloca em causa nem as metas de crescimento nem do défice.

Mário Centeno argumentou dizendo que a receita fiscal em abril terá crescido a um ritmo superior ao esperado pelo Governo, dados da execução orçamental que ainda não foram conhecidos, e que os dados do emprego em alguns setores de atividade – como os serviços e industria – estão a mostrar um crescimento que suporta a sua tese de que a economia estará a evoluir favoravelmente na componente interna. Na componente externa, o Governo espera que os principais mercados das exportações portugueses melhorem e que, com tempo, as empresas encontrem novos mercados.

(Artigo atualizado às 11:11 com declarações do ministro das Finanças e do ministro da Economia)