“Tenho muito medo de morrer esta noite. Estas bombas vão matar-me.”

Os dedos que tapam os ouvidos vão ganhando rigidez, querem chegar mais longe para bloquear o som inevitável. O corpo estremece, os ombros encolhem-se e os olhos adivinham-se fechados. Esta é a história de Bana Alabed, que tem medo das bombas que caem do céu e iluminam a noite de Aleppo, na Síria. A menina de sete anos lê para esquecer o que se passa do outro lado da janela e vai relatando a história de terror e a morte que a rodeia.

Ela e a mãe, Fatemah, criaram uma conta no Twitter, no final de setembro, para desabafarem com o mundo, apelarem ao fim da guerra e, principalmente, para mostrar a crueza da guerra. “Eu preciso de paz”, foi assim o primeiro tweet a 24 de setembro. Em apenas duas semanas a conta encaminha-se para os oito mil seguidores.

“Quando as bombas rebentam, os nossos corações abanam antes dos edifícios”, disse a mãe de Bana, Fatemah, numa entrevista por Skype ao The Guardian. Durante a conversa ouviam-se rajadas de metralhadoras como ruído de fundo.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

“A Bana perguntou-me o porquê de o mundo não nos ouvir. Porque ninguém nos ajuda?”, questiona, explicando assim o porquê de ter criado uma conta no Twitter para relatar a devastação que tem assolado Aleppo.

E porque não abandonaram a cidade como outros milhares fizeram? “Não podes abandonar a tua própria pele. Foi aqui que viveram os nossos pais, é o nosso país, a nossa casa, a nossa vida”, diz Fatemah, que esperava que a guerra durasse apenas um ou dois anos.

A pequena Bana mudou muito, diz a mãe ao diário inglês. Afinal, a menina que quer ser professora só conhece o barulho da chuva de bombas e os prédios a tremerem. Se dormir quatro horas, é uma boa noite. Não pode sair de casa, nem pode ir à escola. A única matemática que pratica diariamente é a contagem das bombas e dos mortos. “Somos crianças. Amamos a vida. Queremos que o mundo nos oiça”, diz Bana.

Alguns tweets de Bana e da sua mãe, Fatemah: