Um conjunto de medidas que Mikhail Gorbachev começou a colocar em prática na então União Soviética terá conseguido levar a cabo uma mudança nos hábitos dos homens russos que, começando a beber mais cerveja em vez de vodca, permitindo um aumento na esperança média de vida deste grupo da população russa, concluiu um economista da Kellog School of Management.

Parece estranho, mas é uma verdade comprovada por investigadores: na Rússia consumir mais cerveja do que outra bebida alcoólica aumenta a esperança média de vida do sexo masculino. Mas como? Por uma mudança de hábitos que começou na distante União Soviética de Mikhail Gorbachev.

Na altura a esperança de vida dos homens soviéticos era muito curta devido ao excessivo consumo de álcool. Todas a bebidas alcoólicas, de uma forma geral, eram consumidas em grandes quantidades, mas havia um consumo maior de bebidas brancas — consideradas as mais agressivas.

Para combater a tendência Gorbachev implementou, na altura, duras medidas como o aumento dos preços das bebidas alcoólicas, sendo o maior aumento para a vodca, colocou em vigor penas mais pesadas por embriaguez em público, ou ainda a medida de restaurantes serem proibidos de vender bebidas alcoólicas antes das 14h00.

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De facto as estratégias para combater o alcoolismo funcionaram, como afirma Lorenz Kueng, professor de finanças da Kellogg School of Management da Universidade de Northwestern, autor das mais recentes pesquisas sobre o caso. Kueng afirma num artigo publicado no site da Kellogg que a “economia planificada foi extremamente eficaz” pois as vendas das bebidas alcoólicas caíram, principalmente de bebidas brancas (venda de vodca caiu cerca de 60%)

O professor da Kellogg juntamente com Evgeny Yakovlev da New Economic School de Moscovo constataram que as leis que Gorbachev implementou deram frutos nas gerações da altura em que as restrições estiveram em vigor. Essas mesmas gerações habituaram-se a beber bebidas alcoólicas mais leves como a cerveja, aumentado a esperança de vida.

No entanto, por consequência, a fabricação ilegal de bebidas alcoólicas também atingiu níveis altos nessa época, como forma de combater as restrições do governo soviético. Principalmente uma bebida chamada Samogon, muito idêntica à vodca, destilada e que pode ter vários sabores. Fabricava-se essencialmente nas zonas rurais e foi a ‘salvação’ dos que se viram sem a vodca.

Segundo dados consultados pelos dois professores, as gerações entre os 16 e os 22 anos de idade que residiam nas áreas urbanas acabaram por se habituar à cerveja, preferindo hoje em dia cerceja à vodca, enquanto que a mesma geração, mas a residir em zonas rurais, na altura, uma vez com acesso à bebida Samogon, continuaram a consumir bebidas alcoólicas destiladas não alterando os hábitos de consumo.

Kueng conclui: “Conhecendo as preferências de consumo aos 22 anos de idade, posso prever as preferências de consumo 20 anos mais tarde”. As conclusões tiradas pelo professor da escola de negócios americana são confirmadas pelos dados da taxa de mortalidade entre os homens: a partir do início da década de 2000 a taxa de mortalidade diminuiu cerca de um terço.

Cerca de 60% da população masculina russa alterou os seus hábitos de consumo alcoólico devido à medida do governo soviético de 1985, o que, por sua vez, ajudou bastante o mercado da cerveja que também cresceu para poder responder da melhor forma à procura.

Os professores estimam que os dados mantiverem-se favoráveis, a mortalidade masculina diminuirá mais 25% nas próximas duas década. “O aumento da esperança de vida deverá acontecer, simplesmente, porque as novas gerações estão habituadas a uma álcool mais leve que irá substituir as gerações mais velha que sempre tiveram fortes preferências pelo licor mais agressivo.”