Mais de meia centena de jovens com problemas de saúde, alimentação, alojamento, entre outros, já pediram ajuda à PAJE, uma plataforma de apoio a jovens adultos que saem de instituições de acolhimento e estão desamparados.

“Neste momento, temos 53 jovens que já nos pediram ajuda” e “conseguimos já arranjar alguns empregos a tempo inteiro”, disse à agência Lusa João Pedro Gaspar, que lançou, em fevereiro, a Plataforma de Apoio a Jovens Ex-Acolhidos (PAJE).

Os pedidos de ajuda são diversos, vão desde medicação, consultas médicas, alojamento, alimentação, preenchimento de declarações de IRS, apoio jurídico, contou João Pedro Gaspar, que durante 15 anos apoiou jovens institucionalizados e percebeu as dificuldades que enfrentam quando saem da instituição.

Foi para ajudar estes jovens que não têm uma rede de apoio a iniciarem um novo percurso de vida, que o investigador da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra criou a plataforma.

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Fazendo um balanço do trabalho desenvolvido, João Pedro Gaspar disse que tem ajudado vários jovens a arranjar emprego, casa, a terem consultas médicas, medicação, e a resolver outros problemas, como o caso de um jovem com “um histórico de consumos” que a plataforma está a fazer “um esforço grande para reabilitar” numa comunidade terapêutica.

Também tem resolvido “questões muito pontuais”, disse, contando o caso de um jovem que trabalhou, mas não sabia que tinha de entregar a declaração de IRS e teve uma coima de mais de 500 euros, mas também situações de pensões de alimentos.

Os jovens e as famílias “sentem que há uma outra retaguarda”, assim como algumas entidades empregadoras, que começam a ver a plataforma como parceira, adiantou o investigador.

Contou que também foi “um ano de nascimentos”: Houve três bebés que nasceram e dois que estão prestes a nascer, filhos de jovens acompanhados na PAGE.

Para tudo funcionar, é necessário que os jovens confiem nos técnicos que os estão a apoiar. “A maior parte destes jovens tiveram muitos ‘doutores'” que passaram pela sua vida nas instituições que nem sabiam qual era a sua área disciplinar e com os quais nunca criaram vínculos.

“Nós tentamos de uma forma informal, encaminhar, orientar e fazer com que sintam que podem contar connosco”, sublinhou.

Mas também há casos de jovens que desistem, porque percebem “até onde é que nós vamos”, porque “tentamos não ser assistencialistas”.

“Há jovens que ainda não estão muito interessados em trabalhar (…) e optam por um estilo de vida que não é aquele que nós queríamos. Depois acabam por se arrepender e voltam” disponíveis para serem ajudados e para trabalharem.

Segundo João Pedro Gaspar, a PAJE tem dado resposta a todos os casos, porque “o grupo de voluntários também funciona”.

Contudo, sublinhou, “estamos numa fase em que nos apercebemos que o modelo inicial começa a ficar um pouco esgotado, porque é uma organização que já pesa”.

“Já falamos de mais de uma centena de associados, mais de 50 jovens em acolhimento, vários protocolos assinados, inclusivamente com o Instituto de Apoio à Criança”, e começamos “a necessitar de uma resposta, de uma estrutura, que não se compadeça com o voluntariado”.

O investigador adiantou a situação tem sido mitigada com estágios profissionais e curriculares, contando atualmente com o apoio de duas psicólogas estagiárias, alunas e investigadores.