A Toyota aplicou a medida em 2002 e não tem queixas: pessoal mais motivado, redução das baixas médicas, menos despedimentos e aumento dos lucros. Mas a ideia idílica de um dia de trabalho de seis horas, em vez de oito, uma bandeira das políticas sociais na Suécia, pode estar em risco, pelo menos a curto-prazo. Há mais custos que benefícios, revelam as mesmas avaliações.

Estudos preliminares conduzidos num lar de idosos na cidade de Gotemburgo, que reduziu o horário dos seus 68 enfermeiros para as seis horas diárias sem que isso se traduzisse numa redução salarial, mostram que a redução do horário laboral obrigou à contratação de mais 17 pessoas e a um custo adicional 12 milhões de coroas suecas (1,3 milhões de euros).

Apesar do aumento de custos, o estudo sublinha que os empregados do lar se sentiram mais saudáveis ao longo dos dois anos do estudo, tendo as faltas por motivos de doença sofrido uma redução para metade. Mais importante: o cuidado com os pacientes melhorou. Mesmo assim, a cidade não deverá avançar com a redução permanente do horário de trabalho neste lar nem estender os testes a outros setores de atividade.

“A medida está directamente associada a um aumento de custos”, disse Daniel Bernmar, um político local, da ala esquerda, responsável pelo setor de cuidado aos cidadãos idosos de Gotemburgo, admitindo ainda que “é demasiado caro estender esta medida a toda a cidade, pelo menos a curto-prazo”.

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Esta não é a primeira vez que a Suécia experimenta a redução do período de trabalho. Além do caso de sucesso da Toyota, a medida está a ser testada em várias empresas e startups na Suécia, como se pode ler na BBC. Durante os anos 90 e o início do novo milénio, o setor público juntou-se aos testes, sendo que o mais famoso foi conduzido na cidade industrial de Kiruna, onde as mulheres que trabalhavam em casas de assistência a idosos viram o seu dia reduzido para seis horas, um horário que complementava o dos seus maridos, na sua maioria mineiros. O projeto foi abandonado depois de as autoridades locais não terem apresentado dados que conseguissem provar os benefícios da medida para a cidade.

Uma das desvantagens deste esquema é também um dos seus pontos positivos: o facto de as autoridades locais de Gotemburgo terem sido obrigadas a contratar mais pessoal reduziu em 4,7 milhões de coroas suecas (cerca de 500 mil euros) os custos do Estado com o subsídio de desemprego na cidade.

Daniel Bernmar disse ainda à Bloomberg que acredita “em dias de trabalho mais pequenos como uma solução a longo-prazo” porque “à medida que o país se torna mais rico é preciso que consigamos aproveitar essa riqueza de outras formas que não passem necessariamente por comprar um carro novo ou adquirir mais bens materiais”.Esta ideia não é nova e pode mesmo ser irreversível. Há muito tempo, já John Maynard Keynes conseguiu prever que a automatização do trabalho e os avanços tecnológicos levariam inevitavelmente a semanas de trabalho mais curtas. Seriam o “novo normal” em 2030. Vamos ver.