Primeiro dia, primeiro embate. Donald Trump tomou posse esta sexta-feira e já tem um diferendo com a imprensa norte-americana, a quem acusa de mentir sobre a assistência da sua tomada de posse. A administração Trump diz que ninguém sabe quantas pessoas assistiram à tomada de posse, por isso a imprensa não pode tirar conclusões, mas garante que esta foi “a maior assistência numa tomada de posse de sempre, ponto!”.
Era de esperar que a relação de Donald Trump com a imprensa norte-americana não fosse das melhores, mas as picardias não se fizeram esperar. O novo Presidente dos Estados Unidos não gostou que fosse questionado o número de pessoas que esteve na sua tomada de posse, na sexta-feira, no National Mall, e numa visita à CIA disse que a imprensa tinha dos “seres mais desonestos à face da terra”.
Donald Trump ainda deu mais umas bicadas na imprensa norte-americana e falou sobre os votos que teve, mas os ataques mais duros deixou-os para o seu porta-voz. Sean Spicer convocou a sua primeira conferência de imprensa, que estava marcada para segunda-feira, para este sábado com o tema a ser uma atualização da agenda do Presidente, mas na verdade usou a maior parte do tempo para atacar os jornalistas
O porta-voz de Donald Trump disse que a imprensa usou fotografias “enquadradas de forma intencional num tweet em particular para minimizar o apoio massivo” que Donald Trump teve na sua tomada de posse.
Segundo Sean Spicer, a imprensa falseou as notícias para dar a entender que a assistência era mais baixa e que ninguém tem números, logo as conclusões que foram retiradas eram incorretas. No entanto, o mesmo porta-voz fez a sua própria avaliação da dimensão da assistência: “esta foi a maior assistência que assistiu a uma tomada de posse, ponto!”. As notícias que saíram a dizer o contrário, “são vergonhosas e erradas”, disse.
O porta-voz fundamentou as suas declarações dizendo que os espaços até ao Washington Monument estavam preenchidos e que só nesses três sítios cabiam 720 mil pessoas e que houve mais 103 mil pessoas a usar o metro do que na tomada de posse de Obama em 2009. Já sobre as clareiras que se viam nas fotos, que o porta-voz diz que foram enquadradas de forma perniciosa, Sean Spicer diz que estas estão evidenciadas porque foi a primeira vez que a relva do National Mall (o espaço desde o capitólio ao Lincoln Memorial) estava protegida com uma cobertura.
O diretor de comunicações da Casa Branca explicou ainda que houve um outro caso envolvendo um jornalista – que Donald Trump diz ser da Time – que terá publicado de forma errada na rede social Twitter que o busto de Martin Luther King teria sido retirado da Sala Oval. Tendo sido prontamente desmentido, o jornalista terá, segundo a Casa Branca, publicado casualmente no Twitter uma declaração a dizer que o busto devia estar tapado por agente dos Serviços Secretos na altura em que estava a olhar.
No final, uma promessa em tom de desafio: “Também vamos responsabilizar a imprensa. (…) O povo americano merece mais e enquanto mensageiro deste movimento irá entregar a mensagem diretamente ao povo”.
A conferência de imprensa teve seguimento por mais alguns segundos para que Spicer explicasse que Donald Trump se vai encontrar com o Presidente do México no dia 31, que a primeira-ministra britânica será o primeiro chefe de governo a visitar a Casa Branca, já na próxima semana, e que Donald Trump também já terá conversado com o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau.
No final de alguns minutos de raspanete e de alguns segundos de informação de agenda, o porta-voz da Casa Branca abandonou a sala sem sequer ouvir as perguntas dos jornalistas que convocou este sábado para estarem presentes na sala de conferências de imprensa, que ainda tentaram pedir a Sean Spicer para explicar com que base fazia a afirmação de que Trump teve a maior assistência de sempre.
Sobre as manifestações contra Donald Trump que decorreram este sábado em várias cidades norte-americanas, e algumas fora dos Estados Unidos, nem uma palavra. Ou quase, já que o porta-voz ainda disse que não havia números oficiais, por isso os jornalistas que nem tentassem usar números nos seus textos.