A agência Moody’s olha com receio para a “fraqueza” nos setores bancários de Portugal e Itália e, especificamente sobre Portugal, a Moody’s está preocupada com o equilíbrio das contas públicas tendo em conta que os partidos que apoiam o Governo socialista “fazem pressão para que a política orçamental seja mais expansionista”. A agência diz que já se nota uma “pequena deterioração” do empenho do Governo na contenção orçamental, ainda que isso não seja exclusivo de Portugal.

Numa apresentação em Lisboa sobre como os riscos políticos são um fator crucial neste momento na Europa, Dietmar Hornung, um diretor da divisão de crédito soberano da Moody’s, fez um “mapa de calor” sobre os riscos que prevalecem em cada país, momentos antes de destacar Portugal e Itália pelos problemas do setor bancário (algo que várias outras entidades têm feito).

Em concreto, o especialista da Moody’s sublinhou que em Portugal existe “um Governo minoritário que depende de partidos de esquerda que fazem pressão para uma política orçamental mais expansionista”, ou seja, menos empenhada no equilíbrio das contas públicas. Isso é um problema para um país tão endividado quanto Portugal, apontou Dietmar Hornung, e já se está a notar uma “pequena deterioração” do empenho do Governo em baixar a dívida, afirmou, sem dar mais pormenores mas dizendo que, “de um modo geral, vemos pouco ímpeto na redução da dívida, em vários países da Europa”, o que é um travão para os ratings.

Como consideração geral, a respeito dos países da União Europeia, a Moody’s diz que se se formarem tendências para crescimento mais baixo e dívida a aumentar, “iremos atuar”, isto é, potencialmente reduzindo os ratings dos países. Portugal é um dos países onde a dívida não pode subir muito mais, porque se a dívida sobe mais 10 ou 15 pontos percentuais, “será necessário muito apoio do BCE para que a dívida continue a ser sustentável”.

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A Moody’s tem um rating de lixo (com perspetiva estável) para Portugal e não tem aproveitado nos últimos anos a janela pré-agendada para atualizar o rating de Portugal. O diretor da Moody’s explicou que a agência não se prende a essas datas pré-agendadas e só publica um relatório quando existem evidências de “melhorias graduais” na situação de um dado país. A agência não publicou qualquer relatório em janeiro, como estava previsto, o que indica que a Moody’s não está a ver razões para melhorar (ou piorar ainda mais) o rating de Portugal.

Em relação à banca nacional, houve uma “melhoria modesta da capitalização dos bancos” mas “a qualidade dos ativos continua a ter desafios pela frente”, uma consideração que a Moody’s faz sobre Portugal mas, também, sobre Itália.

A apresentação do diretor da Moody’s era sobre como as “mudanças da política podem levar a mudanças nas políticas” na zona euro. A principal preocupação do especialista é França, onde “uma vitória da Frente Nacional poderá aumentar o risco de um desmembramento da zona euro”. Dietmar Hornung diz que continua a achar “improvável” uma vitória de Marine Le Pen numa segunda volta das eleições presidenciais mas confirma que “há uma grande incerteza” sobre se Le Pen terá, numa segunda volta, não mais do que os 20%-25% dos votos da primeira volta. Os problemas em torno da campanha de François Fillon e a ascensão de Emmanuel Macron são alguns fatores que aumentam a incerteza em torno das eleições francesas.

Além disso, na Alemanha, a Moody’s acredita que Merkel irá vencer as eleições de setembro mas “um bom resultado do partido euro-cético AfD poderá reduzir as hipóteses de haver progressos na zona euro”, que a Moody’s diz ser uma “construção inacabada”.

Há, também, eleições agendadas na Holanda, que “serão um teste à popularidade dos partidos populistas”. Em Itália, também pode haver eleições e “há menores perspetivas de reforma na economia e há riscos de aumento do populismo”.

A agência Moody’s destaca, ainda, o “risco de uma nova confrontação com os credores e eleições antecipadas” na Grécia e, por fim, Espanha, onde há um “governo minoritário que vai ter dificuldades em fazer reformas estruturais”.