A guerra surda nos bastidores do Banco de Portugal continua. Numa altura em que se mantém o braço-de-ferro entre Governo e supervisor em relação à escolha dos futuros administradores do banco central, o atual vice-governador José Ramalho pediu a Carlos Costa para sair ainda antes de ser encontrado um substituto, alegando razões pessoais para o fazer. O Banco de Portugal já só tem cinco administradores em funções e o governador parece cada vez mais isolado.

A notícia da saída de José Ramalho é avançada pelo jornal Público, que explica ainda que Pedro Duarte Neves, outro dos vice-governadores ainda em funções, acedeu ficar enquanto não é encontrado um substituto. Existem já três lugares em aberto no principal órgão de decisão do banco central, mas nem isso faz Carlos Costa ceder no braço-de-ferro que vai mantendo com o Governo.

O Governo português tem levantado objeções a vários nomes indicados por Carlos Costa. Ao vetar estes nomes, o Executivo socialista pode estar a tentar retirar influência ao governador dentro do Banco e a tentar ganhar um maior ascendente sobre o regulador, num momento em que as críticas à atuação do governador do banco central voltam a ganhar força, depois de novas revelações sobre a implosão do universo Espírito Santo.

No diferendo entre António Costa e Carlos Costa, o Executivo já bloqueou vários dos nomes propostos pelo governador para o Banco de Portugal, o que levou o supervisor a retirar toda a lista de quatro nomes que tinha entregue a Mário Centeno no início da semana passada.

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Costa versus Costa. O regresso do caso BES e dos ataques socialistas ao governador

De acordo com notícias avançadas pelo Público e pelo Expresso, Marcelo Rebelo de Sousa recebeu o governador do Banco de Portugal durante o fim-de-semana, para tentar mediar uma solução entre as partes. O Público escrevia mesmo que a intervenção de Marcelo Rebelo de Sousa dava um sinal ao Governo de António Costa de que o chefe de Estado não quererá a saída do atual governador.

A maioria de esquerda — incluindo o PS — não tem poupado críticas à atuação de Carlos Costa e vai pedindo, com maior ou menor intensidade, a cabeça do governador. António Costa, por sua vez, tem-se mantido à margem desta polémica e já afastou a hipótese de pedir a demissão do responsável pelo banco central.

Carlos Costa, por sua vez, parece disposto a enfrentar a polémica de frente. Depois de uma reportagem especial da SIC ter dado conta de que o Banco de Portugal e o governador não tinham dado a devida importância a um alerta dos serviços do próprio banco central sobre a situação do BES logo em novembro de 2013, o supervisor enviou uma carta à presidente da comissão parlamentar de orçamento e finanças, Teresa Leal Coelho, a pedir para ser ouvido no Parlamento e para “repor a verdade” sobre um “conjunto de acusações à supervisão que distorcem aquilo que é a realidade do que se passou”.