O ministro dos Negócios Estrangeiros não quis comentar, esta segunda-feira, o processo negocial com os Estados Unidos sobre a Base das Lajes, mas admitiu a possibilidade de se avançar para “novas dimensões” na cooperação bilateral, aproveitando estruturas existentes.

“Estamos evidentemente disponíveis para ver com os Estados Unidos quais são essas novas dimensões, que sejam de interesse recíproco para ambos os países”, declarou o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva aos jornalistas, na cidade da Praia, onde está a acompanhar a visita do Presidente da República a Cabo Verde.

A comunicação social questionou o ministro sobre este assunto a propósito das declarações do conselheiro de Estado, advogado e comentador político Luís Marques Mendes, que disse ter a informação de que a base área norte-americana das Lajes, nos Açores, pode ser convertida em base naval.

“Eu não comento processos de negociação que estão em curso”, respondeu o ministro.

Augusto Santos Silva referiu, contudo, que “há elementos de segurança e defesa, no que diz respeito à cooperação entre os Estados Unidos e Portugal, que, do ponto de vista de Portugal, podem avançar, aproveitando estruturas que hoje existem nas Lajes”.

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Segundo o ministro, Portugal está disponível para “ver com os Estados Unidos quais são essas novas dimensões” e aquilo que o Governo português pretende é “manter a dimensão da segurança e da defesa no coração da cooperação bilateral com os Estados Unidos”.

“Julgo que isso é claro para Portugal, julgo que isso é claro também para os Estados Unidos. Do nosso ponto de vista, isso exige da parte dos norte-americanos que vejam com cuidado o interesse geoestratégico da base militar das Lajes”, acrescentou.

No seu programa semanal na SIC, neste domingo à noite, Marques Mendes disse que o ministro dos Negócios Estrangeiros regressou dos Estados Unidos, há cerca de duas semanas, com a perspetiva de que a nova administração norte-americana pode encontrar uma solução para manter a Base das Lajes, convertendo-a eventualmente numa base naval.

Sobre a deslocação recente aos Estados Unidos, Santos Silva referiu que se tratou de uma reunião com os membros da Coligação anti-Daesh, em Washington, e que aproveitou para “realizar contactos, quer na Casa Branca, quer no Senado, quer na Câmara de Representantes dos Estados Unidos” sobre a Base das Lajes.

O ministro disse que nesses contactos a sua mensagem foi a de que Portugal acredita “que os Estados Unidos possam ainda rever a sua decisão sobre redimensionamento em baixa do contingente militar que têm estacionado nas Lajes”, porque “uma nova administração significa forçosamente um novo olhar para esse problema”.

“Em segundo lugar, que as estruturas sobrantes nas Lajes podem ser aproveitadas para outras dimensões da cooperação em segurança e defesa entre Portugal e os Estados Unidos. Em terceiro lugar, que há outros projetos que têm também localização nos Açores, para os quais nós contamos também com os Estados Unidos, entre os quais o projeto de constituição de um centro internacional de investigação e tecnologia nas áreas do espaço, do clima e dos oceanos. Foi isso que eu disse, é isso que eu confirmo”, afirmou.

Santos Silva voltou ainda a afastar a utilização das Lajes por outro país, como a China. “Repito pela enésima vez: do ponto de vista da segurança e da defesa, o único parceiro estratégico de Portugal no que diz respeito ao aproveitamento de capacidades das Lajes são os Estados Unidos. E o único quadro multilateral em que Portugal vê o aproveitamento das estruturas que existem nos Açores é o quadro da NATO”, afirmou.