Ao fim da tarde, quando April Ivy começou a cantar, crianças e pais chegaram-se ao palco, em correria, e o dia, que tinha estado morno, aqueceu de repente. A atuação da cantora portuguesa de 17 anos, considerada uma promessa da pop infanto-juvenil, foi o ponto alto do Teen Alive Aid, um festival de beneficência que juntou dezenas de pessoas este sábado em Oeiras.
O Teen Alive Aid surgiu pela primeira vez no ano passado como iniciativa pública, mas já tinha vários anos de existência noutro formato: desde 2009, enquanto festa privada para pais e alunos do colégio inglês de Carcavelos, St. Julian’s School. A ideia partiu do professor de música Nuno Peixoto e Silva – os alunos tocavam e cantavam ao vivo, demonstrando o que tinham aprendido na escola, e ao mesmo tempo angariavam fundos para diferentes associações de solidariedade social.
Em 2016, pela primeira vez, o Teen Alive Aid saiu do colégio e foi para Oeiras, abrindo-se a todas as pessoas que paguem bilhete. O valor reverte agora, exclusivamente, para a Academia dos Champs, uma associação sem fins lucrativos para integração de jovens em risco, através do desporto.
Com entrada a cinco euros, a festa arrancou às 11 da manhã nos jardins do palácio Marquês de Pombal, em Oeiras, o mesmo local que acolhe o festival de música EDP Cool Jazz. Ao longo da tarde, passaram pelo palco bandas de alunos do St. Julian’s. Pelas quatro da tarde, ouvia-se o clássico “Black Magic Woman”, com guitarras elétricas e vozes femininas. Seguiu-se “Save Tonight”, de Eagle-Eye Cherry, e “Rockin’ In The Free World”, de Neil Young. Alunos de várias idades atuavam ao vivo, para pais, amigos e grande público, com todas as canções em inglês.
O ambiente era festivo. Em torno do palco, num relvado, encontravam-se tendas com comida e bebidas: enchidos da Serra da Estrela, queijos transmontanos, frutos secos de Torres Novas, cachorros quentes. Mas também artesanato. Todos os comerciantes pagaram para lá estar e essa verba reverteu igualmente para a Academia dos Champs. No centro do jardim, crianças de 8 ou 9 anos faziam “surf mecânico” numa prancha presa e outros davam saltos numa estrutura que simulava bungee jumping.
Pedro Carvalho, assessor de comunicação da Academia dos Champs, explicou ao Observador que a associação tem hoje mais de 300 crianças desfavorecidas, entre os cinco e os 18 anos, a praticarem ténis nos 10 núcleos espalhados pelo país e que o Teen Alive Aid serve o propósito de juntar dinheiro para os ajudar, mas também para divulgar o trabalho que é feito desde 2009, ano em que a Academia foi fundada por António Champalimaud.
“As aulas de ténis de cada aluno, por ano, custam-nos à volta de 200 euros”, detalhou Pedro Carvalho. António Champalimaud, também em conversa com o Observador, disse que “a ideia inicial” da Academia dos Champs foi a de “promover o acesso ao desporto, de uma maneira relativamente barata” por parte de muitos jovens que vivem nos bairros à volta de Lisboa. Isto antes de a associação se expandir a outras cidades.
“O desporto dá competências únicas: cumprir objetivos, ter de organizar a agenda, saber lidar com a derrota mas também com a vitória, ser uma pessoa multifacetada que consegue tempo para o deporto no meio das outras tarefas diárias. Além disso, o desporto ensina que o importante são os resultados, não o contexto económico e social de cada um”, defendeu o fundador.
A tarde quente e nublada foi dando lugar uma ventania fresca, o que talvez explique a pouca afluência. Mas o concerto de April Ivy haveria de aquecer os ânimos. A cantora foi aluna no St. Julian’s e chegou a participar no Teen Alive Aid quando o espetáculo decorria apenas no colégio.
Pouco antes de entrar em palco, ela tinha dito ao Observador que se torna “uma pessoa diferente” quando está a atuar. “Atiro-me aos leões. Ponho-me frente a milhares de pessoas sem pensar duas vezes.”
“Apesar de estar no mercado há três anos, sei que tenho muito que aprender, muitas pessoas que conhecer. Claro que tenho alguns medos, e algumas questões que estão por responder, mas tenho estado a lidar com isto um dia de cada vez. É tudo muito novo”, confessou April Ivy, nome artístico de Mariana Gonçalves.
Em termos da relação com os fãs, a jovem artista parece já ter enorme à-vontade. Prontificou-se a posar para as câmaras dos telemóveis das crianças que se encontravam no recinto e abraçou-se a muitas delas. Até à hora de jantar, April Ivy, acompanhada por três músicos, exibiu a forte personalidade de palco que tem feito dela uma revelação.