Os Médicos Sem Fronteiras (MSF) congratularam-se, esta quinta-feira, com o relatório do Programa da ONU sobre sida, através de Sharonann Lynch, assessora para VIH e tuberculose da Campanha de Acesso a Medicamentos da organização, mas advertiu que o flagelo persiste.

É uma boa notícia que tantas pessoas estejam recebendo agora tratamento para o VIH [vírus da imunodeficiência humana], mas um milhão de mortes em um ano ainda é demais. Ainda existe uma crise de sida e é muito preocupante que a ajuda internacional para VIH/sida esteja recuando a partir da conclusão equivocada de que a batalha foi vencida”, declarou a responsável, em mensagem enviada à Lusa.

Segundo Sharonann Lynch, muitas dessas mortes são evitáveis e as pessoas com VIH ainda desenvolvem sida e por isso desenvolvem tuberculose e infeções oportunistas como meningite criptocócica.

Os dados da ONUSIDA mostram que uma em cada três pessoas com VIH só começa o tratamento antirretroviral depois de desenvolver sida. Isso torna mais provável que o resultado do tratamento seja pior. Além disso, pessoas com VIH frequentemente não recebem o tratamento de que precisam para essas infeções oportunistas”, observou.

Em seu entender, a resposta global ao VIH deve ampliar o tratamento antirretroviral para mais pessoas rapidamente, admitindo contudo que, com mais pessoas em tratamento, é crítico que recursos suficientes estejam disponíveis para prevenir e responder a doenças relacionadas à doença, cuja assistência continua a ser difícil e oneroso com os meios disponíveis atualmente.

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Segundo dados das Nações Unidas divulgados esta quinta-feira, um milhão de pessoas morreu de problemas ligados ao VIH/sida no ano passado, o que significa quase metade das mortes em relação ao que acontecia em 2005.

O documento da ONUSIDA considera que foi atingido um “ponto de viragem”, com mais de metade dos doentes no mundo em tratamento e com uma contínua diminuição das novas infeções por VIH/sida.

O número de mortes ligados ao VIH/sida caiu de 1,9 milhões em 2005 para um milhão em 2016“, frisa a coordenação do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre o VIH/sida, numa nota sobre o relatório mais recente acerca da infeção.

O relatório é divulgado antes da abertura, no domingo, em Paris, de uma conferência internacional sobre a doença.

A diminuição do número de mortes é atribuída fundamentalmente a uma melhor difusão dos tratamentos com antirretrovirais.

Aliás, o número de seropositivos com acesso a tratamento antirretroviral em todo o mundo superou, em 2016, os 50%, o que ocorre pela primeira vez desde o início da epidemia.

Segundo os dados relativos ao ano passado, 19,5 milhões dos 36,7 milhões de pessoas com VIH/sida estavam em tratamento. Para 2020, a meta definida para as Nações Unidas é ter 30 milhões de pessoas a receber o tratamento adequado para a infeção.

Atingimos a meta de 2015 de ter 15 milhões de pessoas em tratamento e estamos no caminho para duplicar esse número e atingir a meta de 2020″, refere o diretor executivo da ONUSIDA, Michel Sidibé.

As regiões de África oriental e do sul foram as que exibiram maior progresso a este nível, sendo igualmente as mais afetadas pela epidemia de VIH/sida. Nestas zonas do mundo, as mortes ligadas à sida decaíram 42% e as novas infeções reduziram quase 30%.

Para 2020, o Programa das Nações Unidas para o VIH tem como meta conseguir que 90% das pessoas que vivem com a infeção estejam diagnosticadas.

Em 2016 atingiu-se 70% nesse objetivo, com mais de dois terços dos infetados a serem conhecedores do seu estatuto.

Os outros dois elementos da tríade de 90/90/90 definidos pela ONU são atingir 90% dos diagnosticados em tratamento e 90% dos que estão em tratamento atingirem carga viral indetetável (o que torna muito baixa a possibilidade de transmitir a infeção).

Os dados divulgados no novo relatório mostram que 77% das pessoas que têm diagnóstico estão a aceder a tratamento e que 82% das pessoas em tratamento têm carga viral indetetável.