As negociações entre o Governo e os sindicatos dos médicos arrastam-se há ano e meio e estão longe de chegar a bom porto. Os médicos fizeram greve a 10 e 11 de maio e a resposta do Governo às suas reivindicações chegou esta semana, sob a forma de um documento negocial, onde o Governo sublinha os aumentos salariais ocorridos naquela classe nos últimos dois anos e onde sugere que os médicos com mais de 55 anos passem a fazer urgências, avança o jornal Público.

Na contra-proposta enviada aos sindicatos dos médicos esta segunda-feira, o Ministério diz que as remunerações dos médicos aumentaram entre 15 a 20% nos últimos dois anos, e que entre 2014 e 2017 o número de médicos especialistas aumentou 8,1%, e o de enfermeiros 9,4% — números que o Sindicato Independente dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos contestam e acusam de “manipulação e demagogia”. Isto porque, dizem, esses aumentos a que o Governo se refere não se trata de aumentos remuneratórios mas sim de “reposição do que foi roubado aos médicos”.

Mas o que mais irritou os sindicatos foi mesmo a proposta de pôr os médicos mais velhos (com mais de 55 anos) a cederem parte do seu horário semanal (seis horas) a fazer urgências, como contrapartida para o Governo atender ao pedido de reduzir a carga horária dos médicos nos serviços de urgência.

A próxima reunião entre as duas partes está marcada para esta sexta-feira, no Ministério das Finanças, mas será difícil haver entendimento, uma vez que os dirigentes sindicais estão a encarar a proposta negocial do Governo como “um ultraje”, e “muito pior” do que a proposta negocial inicial que levou à convocação da primeira greve, em maio.

Segundo o mesmo jornal, o Governo sublinha ainda naquela contra-proposta que ainda há mais de 800 mil portugueses sem médico de família, pelo que não é possível dar já resposta a uma das principais reivindicações dos médicos, que assenta na redução do número de utentes dos atuais 1900 para 1500, como acontecia no período antes da troika. Os dois sindicatos médicos não entendem esta argumentação, que voltam a apelidar de “demagogia” e “hipocrisia”, uma vez que desde abril que há cerca de duas centenas de médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar à espera de concurso para colocação.

Se o concurso já tivesse avançado, segundo os sindicatos, seria possível dar médico de família a mais 380 mil pessoas. “O concurso já devia ter sido feito e estes médicos já deviam ter começado a trabalhar no início deste mês”, diz o secretário-geral do SIM, Jorge Roque da Cunha, em declarações ao Público, com o presidente da FNAM, Mário Jorge Neves, a acrescentar: “Para quem está preocupado em dar um médico de família a cada português, estar há cinco meses sem abrir este concurso é estranho”.

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