Um autêntico arsenal, composto de armas automáticas, munições e explosivos. Eis o que as autoridades do Nevada encontraram tanto no quarto do 32º andar do Mandalay Bay Resort and Casino, a partir do qual Stephen Paddock assassinou pelo menos 59 pessoas e feriu outras 527, como na sua própria casa, na pequena cidade de Mesquite, no mesmo Estado.
No total, o homem, contabilista reformado, de 64 anos, tinha 42 armas, 23 no quarto de hotel onde se tinha instalado na passada quinta-feira, 19 em casa, incluindo uma AK-47, equipada com um tripé para melhorar a precisão, que a polícia acredita que pode ter sido alterada para disparar de forma totalmente automática. De acordo com a imprensa norte-americana, terá sido a primeira vez que armas automáticas foram utilizadas em tiroteios em massa no país.
Apesar de nos Estados Unidos qualquer adulto sem cadastro ser elegível para comprar, em lojas da especialidade ou vulgares supermercados, uma ou mais armas — a Segunda Emenda da Constituição assegura esse direito — , a posse de armamento automático foi restringida em maio de 1986, com a aprovação do Firearm Owners’ Protection Act. Explica o The Washington Post, a posse de armas automáticas feitas antes desse ano é legal mas apenas mediante uma “rigorosa verificação de antecedentes” — ao contrário das restantes, as armas automáticas têm ainda de ser registadas junto do governo federal. Em 2015 seriam 490.664 as armas deste género registadas no país.
De acordo com uma sondagem feita em 2015, citada agora pela Vice, 7,7 milhões de norte-americanos são, como Paddock, “super-proprietários” de armas. Tradução: possuem entre 10 e 140 pistolas, espingardas ou revólveres; em média, têm 17 cada um. No total, há 55 milhões de americanos donos de armas — cerca de metade, diz o mesmo estudo, têm “apenas uma ou duas”.
Desde que no dia 14 de dezembro de 2012 Adam Lanza entrou armado na escola primária de Sandy Hook, no Connecticut, matando 20 crianças e 8 adultos (incluindo ele próprio), este foi o 28º tiroteio em massa registado nos Estados Unidos. Como aconteceu em cada um deles, o debate sobre a posse de armas no país, republicanos e NRA (National Riffle Association) de um lado, democratas do outro, voltou a reacender-se. Hillary Clinton foi uma das primeiras a reagir: “A multidão fugiu com o som dos disparos. Imaginem o número de mortos se o atirador tivesse um silenciador, coisa que a NRA quer tornar mais fácil de conseguir”.
The crowd fled at the sound of gunshots.
Imagine the deaths if the shooter had a silencer, which the NRA wants to make easier to get.
— Hillary Clinton (@HillaryClinton) October 2, 2017
A NRA, cujo líder, Wayne LaPierre, disse em tempos que “a única coisa que pode travar um tipo mau com uma arma é um tipo bom com uma arma”, não se manifestou ainda sobre o assunto. No Twitter, uma das últimas entradas que a associação partilhou dá conta do sucesso de uma mulher armada contra os meliantes que queriam assaltá-la: “Uma mulher da Carolina do Norte está em segurança depois de ter puxado da sua arma para proteger a sua casa dos ladrões que a invadiram”.
https://twitter.com/NRACarryGuard/status/913845884600946688
Paradoxalmente, as ações das empresas fabricantes de armas subiram após o massacre, o maior da História dos Estados Unidos. A Olin, que produz as munições Winchester subiu 6%; a Sturm Ruger aumentou 4%; e a American Outdoor Brands, ex-Smith & Wesson, cresceu 3%.
Quem era Stephen Paddock, o atirador de Las Vegas que tinha 64 anos?