Numa conferência realizada na Alemanha, mais precisamente na cidade de Passau, em que o tema era “O Futuro da Indústria Automóvel”, o CEO do Grupo Volkswagen protagonizou um ataque frontal à Tesla, em que, acima de tudo, tentou ridicularizar o rival americano.
Matthias Müller dirige o grupo alemão desde que o anterior responsável se demitiu, fruto do escândalo Dieselgate e é o responsável pela aposta da electrificação em praticamente todas as marcas do grupo, excepção feita – e para já – aos construtores de nicho, como é o caso da Bugatti ou Lamborghini.
A conferência até corria num tom afável, até ao momento em que o moderador mencionou o facto de a “Tesla fascinar os clientes com os seus automóveis eléctricos”, sem dúvida aludindo à boa imagem que a marca e os carros eléctricos americanos gozam junto da maioria dos amantes de veículos amigos do ambiente. Foi exactamente esta afirmação de quem liderava a discussão que permitiu a Müller atirar-se à Tesla e ao seu patrão, Elon Musk.
O CEO da VW não tem problemas em lidar abertamente com o Dieselgate, pois não estava à frente da empresa na altura e os responsáveis que prevaricaram estão em vias de ser punidos pela justiça, com o grupo a suportar as indemnizações e custos das reparações a que está obrigado. E nem tem pruridos em ser comparado com outros fabricantes, como a Toyota ou a GM, ambas a ter de lidar actualmente com situações igualmente muito delicadas, em termos de imagem e conflitos com os seus clientes, como no caso dos airbags da Takata instalados nos seus modelos. O que não gosta é de ser comparado com a Tesla que, segundo ele, produz apenas 80.000 carros por ano, enquanto o Grupo VW ultrapassa os 11 milhões. E foi exactamente isso que fez questão de afirmar em Passau, segundo o Daily Kanban.
Mas se a plateia ficou surpreendida com esta comparação directa com outro fabricante, ficou ainda mais quando Müller, que parecia estar à espera de uma oportunidade para dizer, em público, o que pensa de Musk e dos seus veículos, acusou a Tesla de ter uma gestão irresponsável e de perder largos milhões de dólares por trimestre, enquanto a VW espera apresentar lucros próximos dos 14 mil milhões de euros em 2017.
Mas “a cereja no topo do bolo” surgiu quando o CEO alemão pôs em causa a responsabilidade social da Tesla, apontando o despedimento de funcionários, sem causas evidentes, como prova disso mesmo. Aconselhando a comparar fabricantes equivalentes, em vez de comparar maçãs com laranjas.
Todas as críticas de Matthias Müller ao fabricante americano são suportadas pelos dados tornados públicos pela Tesla, pelo que não sofrerão contestação. Agora o que falta ter em conta é que a Tesla tem investidores, e estes continuam a confiar na marca apesar dos maus resultados, tanto mais que as perdas já estavam previstas, e continuarão a existir até o Model 3 estar a ser vendido em pleno, ou seja, à razão de quase 500.000 unidades por ano.
Outro dado prende-se com o facto de se ter de reconhecer à Tesla o mérito de, numa altura em que poucos acreditavam nos automóveis eléctricos para um futuro imediato, ter conseguido provar que era possível construir uma berlina movida a electricidade sofisticada e potente – e mais barata do que os concorrentes a gasolina, para a mesma potência – e de ter criado os mais avançados sistemas de navegação e de condução semiautónoma (em 2014), de que nenhum outro construtor, ainda hoje, se conseguiu aproximar, quanto mais bater.
À Tesla podem acontecer um sem-número de situações, nem todas necessariamente boas, e rapidamente pode passar “de bestial a besta” junto do seu público-alvo. Basta que os problemas com o incremento da produção do Model 3 persistam, ou que os investidores percam o interesse antes que o Model 3 atinja a velocidade de cruzeiro e que o seu “irmão” SUV, o Model Y, seja introduzido. Mas nada retirará a Elon Musk o facto de ter conseguido ser o David que bateu os Golias todos que há por aí, e ter prestado um excelente serviço à indústria automóvel, ao “obrigá-la” a adoptar outro ritmo, sob pena de ficar pelo caminho. Mesmo se, como se espera, o Porsche Mission E e os restantes modelos que o Grupo VW vai colocar no mercado a partir de 2019, venham a revelar-se tão bons ou melhores do que os Tesla. Como ainda não há vídeo legendado, treine aqui o seu alemão: