Portugal é um caso de sucesso quando o assunto é a cortiça com uma quota de mercado de 49% da produção mundial. Para além das tradicionais rolhas, a cortiça inspira o mundo da moda, desde as roupas ao calçado, incluindo os ténis desportivos, mas serve também para construir pranchas de surf, skates ou revestir o interior de caiaques, entre outras aplicações. Sabia que a cortiça pode também ser utilizada em equipamentos de segurança pessoal, como os capacetes? Foi centrado nesta ideia que Fábio Fernandes, 28 anos, venceu o Prémio Científico Mário Quartin Graça, que distingue teses de doutoramento realizadas em universidades de Portugal e da América Latina.

O jovem investigador, que ganhou na categoria de Tecnologias e Ciências Naturais, sublinha que atualmente “existe uma clara tendência na procura de novos materiais naturais e sustentáveis para substituir os materiais sintéticos”. Fábio Fernandes considera que a cortiça surge como uma “excelente alternativa” ao poliestireno expandido (conhecido como esferovite), o material sintético responsável por absorver a energia dos impactos. Existe ainda o bónus de a cortiça recuperar grande parte da forma após ser deformada, o que a torna mais eficaz para multi-impactos. “Penso que existirá abertura para a utilização deste capacete. Tal como um capacete normal, tem um casco como superfície exterior, pelo que quanto ao aspeto as pessoas nem se aperceberão da diferença”, explica.

Energias renováveis e desafios para o futuro

Diogo Canavarro, 31 anos, foi outro dos investigadores distinguido na categoria de Tecnologias e Ciências Naturais. O vencedor apresentou uma tese de doutoramento sobre concentradores solares térmicos, que considera de extrema importância para o cenário de transição energética dos próximos anos. “Os concentradores solares para além de utilizarem um recurso renovável como é o sol (sendo uma tecnologia dita ‘limpa’) são bastante modulares e flexíveis e o seu espectro de aplicações é imenso” como a produção de eletricidade por via térmica, produção de calor de processo para a indústria, arrefecimento solar ou ainda a dessalinização, explica o investigador da Universidade de Évora.

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Diogo Canavarro salienta também a importância do Prémio Científico Mário Quartin Graça: “O fato de ser atribuído pelo Banco Santander Totta e pela Casa América Latina marca uma diferença positiva na nossa sociedade, na medida em que permite difundir os trabalhos através de instituições de relevo. Em particular, desejo que este prémio possa fomentar as relações entre Portugal e a América Latina, países onde a energia solar tem e terá no futuro um papel cada vez mais preponderante”.

A arte da talha joanina

Para além dos dois jovens portugueses, foram distinguidos dois brasileiros com teses de doutoramento na área das Ciências Sociais e Humanas e nas Ciências Económicas e Empresariais.

Na primeira categoria venceu Aziz Pedrosa que investiga a talha joanina, em Minas Gerais, desde 2010, quando iniciou os estudos acerca do entalhador lisboeta José Coelho de Noronha, que viveu no Brasil no século XVIII. “A partir desse momento percebi que havia um universo de questões que necessitavam de um novo olhar como as dezenas de retábulos por estudar e os artistas portugueses que permaneciam anónimos”, afirma. O investigador, que já esteve sete vezes em Portugal para trabalhos de campo, tem noção de que é necessário “despertar o interesse por temáticas esquecidas e pouco examinadas” e espera que este prémio possa estimular alguns jovens investigadores a desbravar terreno. “Além disso, pode ser uma oportunidade para refletir a importância dos estudiosos brasileiros e portugueses estreitarem parcerias, uma vez que a análise da produção cultural e artística colonial luso-brasileira deve resultar de trabalhos conjuntos dos dois países para que o património possa ser analisado como um todo.”

Em estreito contato com Portugal, esteve também o vencedor da categoria de Ciências Económicas e Empresariais. Naldeir Vieira estudou a inovação social e desenvolvimento de competências em organizações sem fins lucrativos brasileiras e portuguesas, em que foram identificadas mais semelhanças do que diferenças nos dois países. Por exemplo, “para o estímulo e financiamento da inovação social, o Estado foi considerado como o principal ator nos dois países”.

O vencedor de cada categoria obtém um prémio pecuniário de cinco mil euros. A 8ª edição do Prémio Científico Mário Quartin Graça recebeu 50 candidaturas de doutorados de países como Portugal, Brasil, Colômbia, Cuba, Chile, Peru, Equador e México.