O holandês Rabobank, um dos mais influentes bancos de investimento na área do mercado de dívida pública, considera que “parece provável” que a agência de rating Fitch também decida em breve atribuir uma notação de crédito mais favorável a Portugal. Está agendada para daqui a um mês — 15 de dezembro — a atualização do rating da Fitch e os juros têm caído no mercado com a expectativa de que agência venha a seguir os passos da S&P, que em setembro deixou de considerar o investimento em dívida pública portuguesa “um alto risco” (vulgo, junk, ou lixo).

O comentário está numa nota enviada aos clientes do Rabobank — investidores no mercado de dívida — onde os analistas se debruçam sobre o prémio de risco da dívida portuguesa, isto é, a diferença entre os juros de Portugal e as taxas da Alemanha, referência “sem risco” na Europa. Eis como esse spread evoluiu nos últimos meses:

O Rabobank considera que, se compararmos o risco e as perspetivas de Portugal com outros países, o “valor justo” para este spread estará na região dos 163 pontos-base (1,63 pontos percentuais de diferença). Neste momento, o spread está um pouco abaixo desse nível: 152 pontos-base.

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Este é, sensivelmente, o “valor justo” para o prémio de risco de Portugal “se, como parece provável, a Fitch melhorar a notação de crédito a 15 de dezembro”. O rating está, neste momento, a apenas um degrau de sair de lixo, pelo que uma promoção de um nível bastaria para passar a haver uma classificação de “investimento de qualidade”.

Que importância é que terá essa decisão da Fitch? “Essa decisão levaria a que o país voltasse a integrar a maioria dos índices de obrigações”, pelo que o prémio de risco poderá contrair-se ainda mais, acrescenta o banco holandês.

Muitos investidores investem não em emitentes específicos mas em índices (da mesma forma que se compram ações de um país, ou, sobretudo, deste ou daquele setor de atividade). Os títulos são comprados seguindo a ponderação de um índice e, portanto, se a dívida portuguesa volta a constar desses índices isso leva a que vários investidores tenham obrigatoriamente de comprar os títulos, pela simples razão de terem de acompanhar o índice.

Cada índice tem a sua metodologia: para alguns bastará haver um rating de qualidade para estar no índice (desde que seja de uma das três principais agências — Moody’s, S&P e Fitch) mas para outros, por exemplo, pode ser necessário duas agências, pelo menos, com rating positivo. Outras, por exemplo, podem fazer uma média ou considerar apenas o melhor ou o pior rating disponível.

Para os índices mais importantes, contudo, bastará que Portugal esteja fora de lixo na S&P e na Fitch para poder atrair mais investidores, incluindo aqueles mais conservadores que pelas suas regras internas não podem investir (muito) em ativos com notação de crédito mais arriscada. Esta expectativa, de que a Fitch também suba o rating, tem feito os juros de Portugal caírem para menos de 2% no prazo a 10 anos — não só no mercado mas também na última emissão efetiva.

Portugal paga juros mais baixos de sempre a 10 anos

O Rabobank lembra que a subida de rating da S&P foi um momento decisivo. “Já nos ocorreu que a subida de rating pela S&P foi um momento de viragem, que levará a que Portugal possa finalmente transacionar com juros mais próximos dos seus pares periféricos“, isto é, países como Itália, Espanha e Irlanda. O Rabobank acredita que irá haver uma convergência entre os juros de Portugal e de Itália, que estão nos 1,8%.

Uma vantagem para Portugal é que existe pouca dívida passível de ser negociada, sobretudo com o BCE a comprar títulos no mercado ao abrigo do programa de expansão monetária. Entre a procura por títulos por parte do BCE e dos investidores privados que querem apostar na subida de ratings em Portugal, o mercado tende a tornar-se mais escasso, o que ajuda a subir os preços (e baixar os juros implícitos).